sexta-feira, 26 de setembro de 2025

 


"Ontem à noite, uma mulher veio a esta igreja trazendo seu filho. Ela usava calças e não trazia o lenço na cabeça. Alguém a repreendeu. Ela saiu... e nunca mais voltou.

Não sei quem fez isso. Mas ordeno a essa pessoa que, por toda a sua vida, reze pela salvação dessa mulher e de seu filho — porque foi por sua causa que eles se afastaram e não retornarão à igreja."

Dito isso, ele inclinou o rosto, virou-se em silêncio e entrou no altar.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Descobrir a Sua Praia: Um Encontro com Nietzsche


Descobrir a Sua Praia: Um Encontro com Nietzsche

Há uma passagem em Assim falou Zaratustra, de Nietzsche, que ecoa como conselho e advertência ao mesmo tempo: leve o tempo que for para descobrir aquilo que almeja. Depois de descoberto, não recue ante nenhum pretexto.

Traduzindo isso para o nosso cotidiano, é como se Nietzsche nos dissesse: “Demore o tempo que precisar para encontrar qual é a sua praia. Mas, quando encontrá-la, não volte atrás nem para tomar impulso.”

Vivemos em uma era da pressa. O imediatismo virou uma espécie de vício social. Queremos respostas rápidas, resultados instantâneos, sucesso sem demora. Mas a verdade é que as coisas mais autênticas da vida não se encontram em atalhos: elas pedem paciência, maturação, tempo de espera e até um certo silêncio. Descobrir o que se deseja de fato — a vocação, o caminho, a verdade interior — é uma jornada lenta, muitas vezes dolorosa.

Nietzsche sabia disso. Seu chamado não era para a pressa, mas para a fidelidade. O perigo não está em demorar para descobrir, mas em abandonar aquilo que já se revelou como verdadeiro. É aqui que entra a segunda parte de sua advertência: não recue. Não invente desculpas, não se esconda atrás de pretextos, não permita que o medo ou as pressões externas desfigurem o seu propósito.

“Encontrar a sua praia” é uma expressão vulgar, mas que traduz de forma quase perfeita a força do pensamento nietzschiano: quando você se depara com aquilo que dá sentido à sua vida, não desperdice esse encontro. Seguir o próprio caminho exige coragem — e coragem, no fim das contas, é fidelidade ao que já foi descoberto.

Talvez Nietzsche, com sua linguagem incendiária, quisesse nos sacudir para longe da mediocridade, onde muitos passam a vida inteira fugindo de si mesmos. O filósofo aponta para uma verdade incômoda: não é o mundo que mais nos engana, mas nós mesmos, quando recuamos diante daquilo que nos chama.

Portanto, que a lição seja clara: demore o tempo que precisar. Reze, estude, viaje, caia e levante. Mas, quando encontrar a sua praia, não recue. Porque viver de verdade é permanecer fiel ao que se descobriu como autêntico — e não trocar isso por qualquer conveniência passageira.


domingo, 21 de setembro de 2025

Entre Aristóteles e TikTok: Por que a Virtude Foi Esquecida?

 


Entre Aristóteles e TikTok: Por que a Virtude Foi Esquecida?

Há uma pergunta que paira sobre a nossa época como uma sombra silenciosa: por que a virtude foi esquecida?

Em tempos passados, quando Aristóteles ensinava no Liceu, quando os Padres da Igreja meditavam à luz da Escritura, e quando São Tomás de Aquino tecia com precisão as linhas da filosofia e da teologia, falar de virtude era falar da própria vida humana em sua essência. Hoje, porém, o termo soa estranho, quase arcaico, e foi substituído por palavras cintilantes, mas vazias: “sucesso”, “likes”, “autoexpressão”.

O filósofo de Estagira ensinou que a felicidade ( eudaimonia ) não é um acaso, nem tampouco uma emoção passageira, mas o fruto de uma vida orientada pela excelência moral. “A virtude é adquirida pelo hábito” , dizia ele. E esse hábito é uma escola de paciência, esforço e disciplina interior. Ser feliz, para Aristóteles, não era ceder ao impulso, mas formar o caráter; Não era viver para o instante, mas para o bem maior.

Agora, em que abismo caímos? O que outrora era uma ascensão pela escada da virtude tornou-se, na era digital, uma corrida frenética pelo aplauso instantâneo. A cultura do TikTok, dos vídeos de segundos, não nos ensina a pensar, mas a reagir; Não nos formamos em hábitos sólidos, mas em reflexos imediatos. O homem, que deveria ser escultor de si mesmo, tornou-se mero produto de algoritmos.

A modernidade, ao rejeitar a tradição, também rejeitou a própria linguagem da virtude. Termos como prudência, justiça, fortaleza, temperança — colunas da vida ética para Aristóteles e São Tomás — foram substituídos por expressões como “ser autêntico”, “seguir o coração”, “buscar a própria verdade”. Mas, quando cada um cria sua verdade, o que resta senão uma sociedade fragmentada, incapaz de convergir para um bem comum?

Santo Agostinho já percebeua este perigo: "A liberdade sem a verdade é apenas outro nome para a escravidão" . Ao perdermos o referencial do Bem objetivo, transformamos a liberdade em capricho, e o capricho em tirania.

Se Aristóteles via na virtude o caminho para a verdadeira felicidade, a cultura contemporânea trouxe a felicidade ao prazer imediato. Mas prazer não é fim; é consequência. O prazer pode acompanhar a virtude, mas não a substituir. A geração moldada pelo consumo instantâneo e pelas redes sociais foi treinada para confundir o brilho com a luz, o ruído com a música, a emoção com a alegria.

Como anuncia Josef Pieper, filósofo do século XX: "A cultura do ócio não é a cultura do tédio, mas a condição da contemplação. Sem contemplação, não há cultura" . Agora, numa era em que cada segundo precisa ser preenchido por estímulos, a contemplação é impossível, e a virtude, invisível.

Aristóteles não conhecia os homens perfeitos, mas os homens falíveis. Ele sabia que a virtude exige treino — assim como o corpo precisa de exercício, a alma precisa de disciplina. A pedagogia da virtude não é espetáculo, mas repetição; não é espetáculo, mas silêncio; não é novidade, mas constância.

Na cultura do TikTok, nada é constante: tudo deve mudar a cada quinze segundos. E, assim, como aprender a virtude se nem sequer aprender a permanecer? Como alcançar a sabedoria, se não suportamos o tédio fecundo que antecede a compreensão?

Contra esse cenário, a tradição filosófica e cristã permanece como farol. Santo Tomás de Aquino, ao beber em Aristóteles e elevá-lo à luz da fé, ensinou que a virtude humana só se cumpre plenamente na caridade, que é participação no amor divino. A virtude não é mero exercício ético, mas caminho de santidade.

Redescobrir a virtude hoje é mais do que recuperar uma categoria filosófica: é reencontrar a possibilidade da própria humanidade. É afirmar que o homem não é um animal de cliques, mas um ser racional, espiritual, chamado à eternidade.

A pergunta não é se o mundo atual pode redescobrir a virtude, mas se houver homens dispostos a observar contra a corrente do imediatismo. Virtude não dá audiência. Prudência não viraliza. Temperança não rende curtidas. Mas é justamente nelas que está a salvação da alma e da civilização.

Entre Aristóteles e o TikTok, cada homem precisa escolher onde firmará sua morada: na areia movida do efêmero, ou na rocha sólida do eterno. Pois, como já dizia o próprio Aristóteles, "Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito" .

Se a virtude foi esquecida, cabe a nós recordá-la — com a vida, com o exemplo, com a fidelidade. Pois só assim, no meio do ruído e do fluxo incessante, poderemos ouvir novamente a voz da sabedoria que nunca envelhece.

Referências

  • Aristóteles . Ética a Nicômaco . Trad. Antonio Pinto de Carvalho. São Paulo: Édipro, 2017.

  • Santo Agostinho . Confissões . Trad. Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus, 2004.

  • São Tomás de Aquino . Suma Teológica . I-II. Trad. Alexandre Correa. São Paulo: Loyola, 2001.

  • Chesterton, G. K. Ortodoxia . Trad. Almiro Piseta. São Paulo: Mundo Cristão, 2014.

  • Pieper, Josef . Ócio e Culto: A Base da Cultura . São Paulo: É Realizações, 2010.

Contra o Vento e a Maré: A Alma que Resiste à Revolução


Contra o Vento e a Maré: A Alma que Resiste à Revolução

Vivemos sob o signo de um mundo que se reinventa a cada instante. A palavra “revolução” é exaltada como se fosse sinônimo de progresso, como se todo passado fosse sombra e todo futuro fosse luz. Porém, como anuncia Santo Agostinho, “a verdade não é filha do tempo, mas da eternidade” . Se a verdade não muda, como pode ser progresso arrancar o homem das raízes que lhe dão a vida?

A modernidade, ao venerar o novo pelo simples fato de ser novo, esquece que o homem não nasceu ontem. Somos herdeiros de uma história, de uma memória coletiva, de uma tradição que nos liga ao que há de mais profundo: o próprio Deus. Como ensinou Santo Irineu de Lyon, “a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem consiste na visão de Deus” . O homem só é homem completo quando participa do eterno — e não quando se dissolve nas ondas do instante.

O espírito revolucionário promete liberdade, mas entrega escravidão. Liberdade não é ausência de raízes, mas fidelidade àquilo que nos dá consistência. Uma árvore que renega suas raízes não se torna mais livre: apenas morre. GK Chesterton já lembrava que “a tradição é a democracia dos mortos” , ou seja, dar voz não apenas à moda de hoje, mas também à sabedoria dos que nos antecederam.

Resistir, portanto, não é nostalgia nem teimosia. É ato de coragem. O professor Plínio Corrêa de Oliveira, ao diagnosticar a Revolução como um processo multissecular de dissolução moral, religiosa e social, anuncia que a verdadeira contra-revolução não se faz com violência, mas com fidelidade — uma firmeza que nasce da alma que se ancora na Verdade eterna.

Contra o vento e a maré, permanece a alma que resiste. Não se trata de recusa o mundo, mas de recusa o mundo sem Deus. Não se trata de negar o futuro, mas de preparar um futuro que não seja um deserto de sentido. Como um farol em meio à tempestade, a alma fiel pode parecer pequena, mas ilumina os que ainda buscam o caminho.

A Revolução é barulho; a resistência é silêncio fecundo. A Revolução é maré que arrasta; a fidelidade é rocha que sustenta. A Revolução é chama que consome; a Tradição é luz que aquece e orienta.

No fim, não vencerá o vento que uiva nem a maré que arrasta, mas Aquele que acalmou as águas com uma só palavra: “Silêncio! Cala-te!” (Mc 4,39).

E é n'Ele que a alma encontra forças para resistir, mesmo sozinho, mesmo frágil, mesmo contra tudo.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Quando a Mente nos Trai: Pensamentos Intrusivos sobre Sexualidade

 


Quando a Mente nos Trai: Pensamentos Intrusivos sobre Sexualidade

Há certos pensamentos que não pedem licença. Eles entram pela porta da mente, sem aviso, sem contexto, sem sentido — e, por vezes, carregam em si um peso que não condiz com quem somos. Chamam-se pensamentos intrusivos. E quando o tema é sexualidade, tornam-se ainda mais assustadores para muitos.

Pensamentos intrusivos são ideias, imagens ou impulsos involuntários, que surgem de forma repentina e geram sofrimento, vergonha ou culpa. São como trovões em céu claro: não fazem parte do clima da alma, mas mesmo assim ecoam alto.

No campo da sexualidade, esses pensamentos podem ter conteúdos inaceitáveis ou contrários aos valores da pessoa: imagens obscenas, fantasias indesejadas, ideias blasfemas ligadas ao corpo ou até ao sagrado.

E aqui é necessário um ponto de partida importante: pensar não é o mesmo que querer. Ter um pensamento não significa aprová-lo, desejar sua realização ou estar moralmente envolvido com ele.

A maior dor não está no conteúdo do pensamento, mas no medo de que ele diga algo sobre quem eu sou. A mente moral, especialmente nas pessoas de fé ou com formação ética mais sólida, reage com horror: “Como pude pensar isso?”

E então se inicia o ciclo vicioso:

- O pensamento surge;

- A pessoa tenta resistir, repreender, apagar;

- Quanto mais luta, mais ele volta;

- E o sofrimento se aprofunda.

Este é o mecanismo da mente obsessiva: quanto mais você combate diretamente o pensamento, mais ele ganha força.

A sexualidade, quando mal compreendida, vira um campo minado. Em nossa tradição cristã, a pureza é uma virtude elevada, um chamado à integração da alma e do corpo. Mas quando confundimos pureza com ausência total de pensamentos, corremos o risco de entrar num tipo de escrúpulo espiritual.

Nem todo pensamento é um pecado. Muitos não são sequer tentação — são apenas resíduos da mente, jogos da imaginação, ecos do inconsciente. O que importa é o consentimento da vontade. Santo Afonso de Ligório dizia: “Enquanto a vontade luta, não há pecado”.

O primeiro passo é lembrar: pensamentos intrusivos não são escolhidos. Eles aparecem. Você não os convidou. Não há culpa em tê-los.

A mente é como uma criança birrenta: se você dá atenção demais, ela grita mais alto. Deixe o pensamento vir e ir, como uma nuvem que passa no céu. Observe, mas não se agarre.

Quando os pensamentos se tornam frequentes e incapacitantes, pode haver um transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). A ajuda de um profissional é fundamental — de preferência, alguém que compreenda tanto a psicologia quanto os valores espirituais da pessoa.

A oração, os sacramentos, a direção espiritual ajudam a manter a mente ancorada na verdade do Evangelho: você é mais do que seus pensamentos. Deus vê o coração, e o coração que deseja agradá-Lo já Lhe é agradável.

Às vezes, o mais santo que podemos fazer é parar de nos analisar e dizer: "Senhor, Vós sabeis que eu Vos amo, mesmo quando minha mente me trai."

A mente pode nos trair, mas a graça não. A sexualidade, como tudo no ser humano, é campo de luta e de santificação. Ter pensamentos estranhos não significa que você é perverso, impuro ou indigno — significa apenas que você é humano.

A alma que persevera no amor, mesmo entre sombras, será amparada pela luz. E se a tua mente hoje parece um campo de batalha, saiba: o Senhor está contigo nas trincheiras.

Não temas os pensamentos que não escolheste. Teme apenas perder de vista Aquele que te escolheu.

Mosteiro Santa Maria do Monte Carmelo

Salve Maria!

Há acontecimentos que nos deixam perplexos, não apenas pela dor que provocam, mas pelo que revelam sobre o estado dos corações. Nos últimos dias, um fato ocorrido no Paraguai gerou indignação e tristeza entre aqueles que acompanham a missão do padre Tiago: o mosteiro de sua comunidade, construído ao longo de anos com esforço, oração e doações, foi tomado à força pelo próprio doador do terreno, que, apoiado por policiais, expulsou os religiosos que lá viviam.


A versão oficial tenta se amparar em documentos: dizem que a escritura não esta no nome do padre, nem da associação que administra a comunidade. Pode ser. Mas quem conhece a história sabe que, muito antes da letra fria da lei, é o suor, o trabalho, o sacrifício e a entrega total de vida que o padre Tiago e seus irmãos depositaram naquele lugar. Um mosteiro não se ergue apenas de pedra e cimento; ergue-se de joelhos dobrados, de madrugadas de vigília, de refeições frugais, de abraços dados aos pobres que batem à porta.

O que testemunhamos agora é uma cena dolorosa: um sacerdote, que gastou seus anos mais fecundos ocorridos a Deus e às almas naquele recanto, impedido de entrar no próprio mosteiro de sua ordem. Frades e uma religiosa expulsa como se fossem invasores. Um espaço que era casa de oração, transformado em campo de disputa. E, para completar, o uso da força policial — fria, mecânica, sem a menor compaixão pelo hábito religioso que, por séculos, foi sinal de paz.

Não se trata aqui de ignorar possíveis divergências. Todos sabem que, ao longo dos anos, surgiram diferenças de opinião, modos distintos de conduzir a missão, conflitos humanos que são inevitáveis onde há convivência. Mas desde quando essas diferenças justificam a ruptura abrupta e sem misericórdia? Desde quando uma caridade fraterna pode ser sacrificada em nome de conveniências administrativas?

O padre Tiago não foi um peso morto para sua comunidade. Muito pelo contrário. Além de celebrar os sacramentos, esteve presente nas dores e alegrias de incontáveis fiéis, ajudou financeiramente, acolheu famílias sem teto, alimentou quem tinha fome, pagou contas que não eram suas. Muitos que hoje vivem dignamente receberam dele auxílio concreto. A gratidão, nestes casos, não é uma formalidade: é um dever moral.

E se, de fato, houve uma decisão a ser tomada quanto ao futuro da missão, o caminho cristão nunca será uma tomada pela força. Cristo não entrou no coração dos homens como um policial batendo à porta, mas como o Bom Pastor que chama suas ovelhas pelo nome. Um ato desses, frio e abrupto, não só fere a dignidade dos expulsos, mas também vence a confiança da comunidade que olha para aquele mosteiro como um sinal da presença de Deus.

O mais doloroso, porém, não é apenas o fechamento físico das portas. É uma simbologia de ver um altar — construído com amor, orações e renúncias — ser arrancado das mãos de quem o plantou e regou durante anos. É como ver um pai de família ser expulso da própria casa pelos próprios parentes. O peso dessa cena recai sobre todos nós, porque a Igreja não é apenas feita de pedras e terrenos, mas de vínculos espirituais que, quando rompidos de forma tão brusca, deixam cicatrizes profundas.


E o que dizer da dimensão espiritual? Um mosteiro não é apenas um “imóvel religioso”: é uma fortaleza de oração, um lugar onde o mundo é sustentado pelo clamor silencioso de almas consagradas. Quem retira um monge ou uma freira do seu claustro, sem justa causa e sem caridade, comete um ato grave, não apenas contra eles, mas contra todos aqueles que dependem, muitas vezes sem saber, orações daquelas para permanecerem firmes na fé.

Hoje, ao olhar para este episódio, não podemos deixar de nos perguntar: onde ficou a caridade? Onde ficou o mandamento do Senhor, “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”? Onde ficou a consciência de que, na Igreja, as mesmas questões materiais devem ser resolvidas à luz do Evangelho?


A tragédia não é apenas no que foi feito, mas na forma como foi feita. Tomar à força, com o peso da lei humana, um espaço que nasceu do amor e da doação é agir como se a graça de Deus fosse substituída por papéis carimbados. É esquecer que “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Cor 3,6).

O caso do padre Tiago não é apenas uma disputa de propriedade: é um alerta para todos nós sobre como podemos, se não estivermos vigilantes, deixar que o legalismo e as mágoas pessoais abafem a voz do Evangelho. Oremos para que haja reconciliação, que a verdade e a justiça caminhem juntas, e que, acima de tudo, a caridade volte a ter a última palavra.

Porque, no fim das contas, um mosteiro não é apenas um prédio. É um pedaço do Céu plantado na terra. E arrancar esse Céu das mãos de quem o construído com amor é algo que não se apaga facilmente da memória dos fiéis.



quinta-feira, 14 de agosto de 2025

A Sociedade Atual e a Incapacidade de Compreender o Mito da Caverna

 


A Sociedade Atual e a Incapacidade de Compreender o Mito da Caverna

O mito da caverna, narrado por Platão, é um daqueles textos que atravessam os séculos como uma lâmina afiada. Não se trata de uma história antiga e ultrapassada; trata-se de um espelho incômodo. Nele, prisioneiros acorrentados desde o nascimento veem apenas sombras projetadas na parede da caverna e tomam essas sombras por realidade. Quando um deles se liberta e conhece o mundo verdadeiro, volta para libertar os outros — e é recebido com hostilidade, ridicularização e violência.

Parece familiar? Pois é.

Vivemos numa época saturada de informação, mas empobrecida de reflexão. Nunca tivemos tanto acesso à “luz”, e nunca estivemos tão confortáveis nas sombras. O homem contemporâneo não está preso por correntes de ferro, mas por correntes de vício, distração e conformismo. A caverna de hoje tem nome: redes sociais, polarizações vazias, narrativas fabricadas. São sombras que se movem rápido, piscam, brilham — e nos dão a falsa sensação de estarmos vendo tudo, quando na verdade vemos nada.

O problema é que a compreensão do mito exige mais que saber “resumir” a história. É preciso reconhecer-se como um dos prisioneiros — e isso fere o orgulho moderno. Admitir que tivemos boa parte da vida enganada é um golpe que poucos suportam. É mais fácil rir de quem tenta mostrar a luz do sol do que encarar a clareza que denuncia nossas ilusões.

A sociedade atual tornou-se tão alérgica à verdade quanto aos prisioneiros à luz. A verdade não é confortável, não é moldável ao gosto do consumidor. Ela exige conversão, humildade e renúncia — virtudes em extinção. Por isso, o mito da caverna é hoje limitado a uma curiosidade escolar, encaixotado na prateleira de “filosofia introdutória”, quando deveria ser um alarme espiritual, um chamado para acordar.

A maior tragédia não é estarmos na caverna. É amarmos as correntes.
O homem contemporâneo não teme a escuridão — teme a luz.

sábado, 9 de agosto de 2025

As cruzes que ninguém vê — A vida oculta de um homem casado e sacerdote

 


As cruzes que ninguém vê — A vida oculta de um homem casado e sacerdote

Há cruzes que se erguem à vista de todos: o peso de uma enfermidade, o luto recente, a pobreza gritante, a solidão confessada. Mas existem aquelas cruzes silenciosas, escondidas no coração, que poucos percebem. São as cruzes do homem que, ao mesmo tempo, é esposo, pai e sacerdote — um chamado duplo que, em vez de se dividir, multiplicar-se em  exigências, renúncias e combates internos.

No altar da igreja, ele oferece o Corpo e o Sangue de Cristo. Na mesa de casa, parte o pão do cotidiano, com contas a pagar e filhos para educar. Entre uma homilia e uma conversa à beira da cama dos filhos, entre um sacramento administrado e uma pia de pratos acumulados, ele vive um sacerdócio que não cabe apenas na sacristia.

Há dias em que o peso do colarinho clerical se mistura ao peso da aliança matrimonial, e ambos pedem fidelidade total.

O apóstolo Paulo, ao escrever a Timóteo, não excluiu a possibilidade de um presbítero ser casado; pelo contrário, exigiu que ele fosse “marido de uma só mulher” (1Tm 3,2), capaz de governar bem sua casa como sinal de que saberá cuidar da Igreja de Deus.

Há pedidos de ajuda às três da manhã. Há telefones inesperados de paroquianos em crise, que acontecem no mesmo instante em que a esposa precisa de atenção ou um filho chora. Nessas horas, não há público aplaudindo o sacrifício, não há manchete enaltecendo o gesto. Há apenas a solidão do dever, sustentada por uma oração silenciosa:

“Senhor, ajude-me a não falhar com ninguém, mesmo que eu falhe comigo.”

São João Crisóstomo, ele que era um bispo oriental profundamente consciente das critérios pastorais, escreveu:

"O sacerdote vive entre o céu e a terra. Ele fala aos homens em nome de Deus e fala a Deus em nome dos homens. Sua vida é toda doação, e por isso, necessariamente, toda cruz."

(De Sacerdotio , II, 4)

O mundo espera que o sacerdote seja sempre paciente, sempre disponível, sempre irrepreensível. A família, por sua vez, precisa que ele seja presente, sensível e firme. E ele, no íntimo, luta contra o cansaço, o desânimo e a tentativa de fazer menos do que poderia. É uma guerra espiritual constante, onde a primeira trincheira é o próprio coração.

Nas igrejas católicas orientais, desde os tempos apostólicos até hoje, muitos padres são homens casados. Não é uma concessão moderna, mas uma herança viva. São exemplos de que a fidelidade a Deus pode florescer no terreno do matrimônio e do altar, desde que a cruz seja abraçada com amor.

O Concílio de Trullo (692), reconhecido pela tradição oriental, reafirmou essa prática: o presbítero casado deve viver uma vida conjugal com pureza e governar sua casa de forma irrepreensível, lembrando sempre que sua primeira esposa espiritual é a Igreja.

Não é uma vida de perfeição exibida, mas de santidade construída no segredo. Deus vê. Deus sabe. E é Ele quem transforma a fadiga em oferta, as lágrimas em sementes, a renúncia em coroa.

Ser homem casado e sacerdote é viver entre dois amores que se completam: o amor esponsal pela esposa e filhos, e o amor esponsal pela Igreja. E é na cruz invisível do dia a dia que estes dois amores se encontram no Cristo que também amou até o fim.

São Gregório Nazianzeno descreve o ministério como um fogo que consome o sacerdote por inteiro:

"Não posso ser meio de Deus e meio do mundo. Onde Deus me colocou, devo ser todo Dele, ainda que minha carne sinta o peso e minha alma se incline ao descanso."

(Oratio 2, De fuga sua )

As cruzes que ninguém vê talvez sejam as mais pesadas, justamente porque ninguém ajuda a carregá-las… a não ser Cristo. E é no abraço dessa cruz que o homem casado e sacerdote descobre, dia após dia, que sua vida não é dividida, mas consagrada inteiramente, em todos os altares — o de pedra e o do lar.

E assim, enquanto o mundo vê apenas o homem que prega e celebra, o Céu contempla o servo que, com as mãos calejadas pelo trabalho e pelo cuidado da família, eleva também o cálice da salvação, oferecendo-se inteiro por amor. 

 

 

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Quantos de Nós Realmente Sabemos Escrever?

 



Quantos de Nós Realmente Sabemos Escrever?

Vivemos num tempo em que todos escrevem, mas poucos escrevem bem . Escrever virou hábito — e vício. Mandamos mensagens, redigimos e-mails, fazemos posts, tweets, bilhetes. Mas… quantos de nós realmente sabemos escrever?

Não me refiro à habilidade técnica de submeter e predicado. Refiro-me ao ato sagrado de pensar com palavras. Escrever é uma extensão da alma. Quem escreve bem, antes de tudo, pensa bem. E quem não sabe ordenar ideias, também não saberá ordenar as ideias na folha.

A maioria escreve como quem fala — e fala mal. Derrama palavras como água suja, sem filtro, sem forma, sem beleza. Falta estrutura, falta clareza, falta verdade .

Escrever, outrora, era um ofício. Requer tempo, silêncio e leitura. Muitos autores escreveram com pena, não só de tinta, mas do coração. Lapidavam frases como escultores antigos. Hoje, a escrita virou um produto simultaneamente: instantânea, superficial, e muitas vezes preguiçosa.

Nas escolas, já não se ensina a redigir com rigor. Os alunos mal leem — e se leem, não compreendem. Como poderia, então, escrever com sentido? Falta gramática, vocabulário, e o mais grave: falta amor pela palavra bem dita .

Quem escreve, ensina. Mesmo sem querer, mesmo sem saber. Ao publicar uma frase, estamos formando ou deformando o leitor. Estamos semeando ideias — boas ou ruíns. Por isso, escrever exige responsabilidade. Não se jogue palavras ao vento impunemente . Cada vírgula mal colocada é uma desordem no pensamento. Cada erro, um convite à confusão.

Quer saber se você realmente sabe escrever? Tente explicar algo complexo de forma simples. Tente emocionar sem ser piegas. Tente convencer sem gritar. Escreva algo que alguém possa ler em silêncio… e sair transformado.

Difícil? É claro que é. Escrever bem exige humildade. Quem acha que já sabe, já perdeu o caminho. Quem escreve bem, reescreve. Corta, ajusta, recomeça. Porque escrever é, no fundo, um caminho de conversão — da confusão à clareza, do caos à ordem, da pressa ao cuidado.

Não para enfeitar o mundo com firulas literárias. Mas para restaurar o senso, o pensamento, a verdade. Precisamos de gente que saiba dizer o certo, do jeito certo, na hora certa. Que saiba usar as palavras como se fossem preces. Ou como armas — quando necessário.

Se você quer aprender a escrever, comece lendo os mestres. Ouça o ritmo das boas frases. Fuja das modinhas e dos modismos. Acima de tudo: pense antes de escrever. Pense com calma, com seleções, com paixão pela verdade. Porque no fim, escrever é uma forma de amar.


O Patriarca de Ouro: Entre a Cruz e o Kremlin

 

 
O Patriarca de Ouro: Entre a Cruz e o Kremlin
Por Matheus Lino

Nos tempos dos Padres da Igreja, o bispo era o pobre entre os pobres, o servo dos servos, o mártir que ascendia ao trono episcopal pela via do sangue, não do prestígio. Mas hoje, entre palácios, jatinhos e relógios suíços, será que ainda resta algo daquela glória verdadeira que passa pela cruz?

Um nome salta aos olhos nesse contraste escandaloso: Patriarca Cirilo I (Kiril) , líder da Igreja Ortodoxa Russa, homem de vestes sagradas — mas esses passos parecem ecoar mais o tilintar do ouro do que o silêncio da oração.

Em 2012, uma fotografia oficial publicada no site do Patriarcado mostrou Kiril sentado, em aparente sobriedade. Nada mais, até que os internautas notaram um detalhe perturbador: o reflexo na mesa polida mostrou um relógio caríssimo no pulso do patriarca, mas o objeto havia sido apagado da imagem .

O modelo? Um Breguet de 30 mil dólares , acessório mais comum em príncipes do Golfo do que em sucessores dos Apóstolos. A edição da imagem foi confirmada. Uma justificativa? "Erro técnico." Mas o símbolo ocorre: um reflexo que diz mais do que mil palavras.

A Igreja Ortodoxa Russa, sob o comando de Kiril, tornou-se um braço ideológico do Kremlin , oferecendo sustentação religiosa ao projeto imperial de Vladimir Putin. O patriarca chegou a declarar que a guerra contra a Ucrânia tinha um “valor espiritual”, um combate contra os “valores decadentes do Ocidente”.

Não é apenas retórico. O Patriarcado desfruta de isenções fiscais, propriedades milionárias, envolvimento indireto com negócios de petróleo e tabaco , e uma influência cultural que remonta à antiga simbiose entre o trono e o altar no Império Bizantino.

Mas o preço é alto. Quando a fé se torna instrumento do Estado, ela se corrompe. O altar deixa de ser lugar de sacrifícios, e passa a ser palco de conveniências.

Contrastemos essa figura com os verdadeiros pastores da Igreja: São João Crisóstomo , exilado e perseguido por denunciador a luxúria do clero; Santo Inácio de Antioquia, devorado por leões por amor a Cristo; São Basílio Magno, que rejeitou privilégios e viveu entre os pobres.

Estes não vestiam ouro nem calçavam sapatos italianos. Vestiam o sofrimento do povo, calçavam a poeira da estrada. E por isso deixaram rastros eternos.

Não se trata aqui de atacar a Ortodoxia — tradição venerável e irmã na fé, guardiã de tesouros litúrgicos e espiritualmente inestimáveis. Mas sim de clamar, como o profeta:

"Ai dos pastores que se apascentam a si mesmos!" (Ez 34,2)

O escândalo não é só no luxo. Está na incoerência. Está em ver um sucessor dos apóstolos viver como um oligarca, enquanto o povo fiel jejua, reza e clama por líderes santos.

O reflexo do relógio na mesa do patriarca tornou-se símbolo de uma Igreja que talvez não brilhe mais com a luz de Cristo, mas apenas reflete a vaidade deste mundo .

A nós, católicos orientais, cabe aprender com esse drama. Que tipo de pastores formamos? Que tipo de Igreja temos sustentada? Estamos mais preocupados com a cruz ou com a prestígio?

O verdadeiro ouro da Igreja é a santidade. Tudo o mais é vaidade, poeira e escândalo.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

 

Quer conversar? Estou à disposição.

Se algo que você leu aqui falou ao seu coração, se atravessa um momento difícil, ou apenas deseja trocar ideias com serenidade e verdade — saiba que pode me escrever.

📩 E-mail para contato: matheuslinofmdj@gmail.com
Respondo pessoalmente, com atenção e respeito.

Nada substitui o valor de uma boa conversa — mesmo que por palavras escritas.

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Nossa Senhora do Monte Carmelo: Mãe da Contemplação e do Combate

 


Nossa Senhora do Monte Carmelo: Mãe da Contemplação e do Combate

No dia 16 de julho, a Igreja se curva em honra áquela que, do alto do Monte Carmelo, vela pela Igreja militante: Nossa Senhora do Carmo. Esta memória não é apenas mais uma página piedosa do calendário litúrgico; é um grito do Céu para que recordemos a beleza da oração, da penitência e da fidelidade.

O Monte Carmelo, na Terra Santa, sempre foi um lugar de encontro com Deus. Desde os tempos do profeta Elias, ali ressoaram as palavras inflamadas: “O Senhor é Deus!” Foi naquele monte sagrado que a tradição mariana floresceu entre as eremitas que buscavam uma vida oculta em Deus, longe do barulho do mundo e perto da Palavra.

Séculos mais tarde, quando a Ordem do Carmo se espalhou pelo Ocidente, a Virgem Santíssima fez questão de selar sua predileção por aqueles monges e fiéis. Em 1251, São Simão Stock recebeu dela o escapulário, promessa visível da proteção materna de Maria. Não é superstição, não é amuleto; o escapulário é um manto espiritual, sinal de consagração e pertença à Mãe do Céu.

Quem veste o escapulário e vive em estado de graça carrega consigo a promessa da salvação: “Quem morrer com ele, não padecerá o fogo eterno.” É um chamado à santidade, uma lembrança diária de que pertencemos ao Exército de Cristo e que Maria é nossa Capitã.

Nossa Senhora do Carmo é Mãe da vida interior. Ela não nos convida a grandes discursos, mas ao recolhimento do coração. É padroeira dos contemplativos, dos que vivem escondidos aos olhos do mundo, mas luminosos aos olhos de Deus. Também é advogada dos pecadores, Mãe dos que erram, consolo dos aflitos.

Num mundo que se perde em mil distrações e vícios, o Monte Carmelo ergue-se como farol, apontando o caminho do silêncio, da oração e da penitência. Celebrar Nossa Senhora do Carmo é registrar que temos uma Mãe que não se esquece dos seus filhos, que nos cobre com seu manto e que intercede com poder junto ao seu Filho.

Neste dia santo, sejamos simples e fiéis. Renovemos nossa consagração, vistamos o escapulário com devoção, rezemos o terço com amor e, acima de tudo, vivamos como verdadeiros filhos de Maria. Ela nos conduz, sempre, ao coração do seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!

segunda-feira, 14 de julho de 2025

O Drama das Mulheres no Século XXI: Da Graça da Maternidade ao Vazio do Mercado


O Drama das Mulheres no Século XXI: Da Graça da Maternidade ao Vazio do Mercado

Vivemos tempos de grandes paradoxos. Num século em que nunca se falou tanto em “libertação feminina”, nunca se viu tantas mulheres infelizes, ansiosas, solitárias. Trocaram a alegria serena da maternidade pela companhia de um animal de estimação; Abandonaram o lar, onde pensamos construir uma fortaleza de amor, para disputar cargos em empresas que, na primeira oportunidade as descartam sem piedade.

O feminismo prometeu igualdade, mas entregou revolta. As mulheres de outrara eram pilares da família e da sociedade; hoje são treinadas a ver no homem um inimigo, no filho um estorvo, no lar uma prisão. A maternidade virou fardo, o casamento um contrato frágil, a feminilidade uma vergonha a ser escondida atrás de discursos de “empoderamento”.

Antigamente, o sobrenome do pai era honra, linhagem, continuidade. Agora, virou bandeira de resistência contra o que chamamos de “patriarcado”. Querem apagar uma herança familiar, desfazer-se das tradições e cortar as raízes da civilização. E quando por acaso têm filhos, não raro, preferem terceirizar a criação — ao Estado, às escolas progressistas, à babá, ao pai “desconstruído” que troca fraldas enquanto elas continuam “se realizando” nos escritórios.

A mulher moderna foi ensinada a guerrear contra a própria natureza. E qual é o resultado? Multidões de mulheres remédios-dependentes, esgotadas, em guerra interna. O feminismo, longe de promover a justiça entre os sexos, alimenta um ressentimento tóxico contra o masculino, propagando não igualdade, mas ódio.

As consequências estão aí: famílias despedaçadas, crianças sem rumo, homens sem coragem, mulheres sem paz. O caminho para a verdadeira liberdade não está em negar quem somos, mas em aceitar — com orgulho — o chamado mais sublime da mulher: ser mãe, ser educadora, ser a alma do lar. E, para aquelas chamadas à vida profissional, que esta nunca seja em detrimento daquilo que é mais precioso.

O tempo revelará, como sempre revelou, que quando uma mulher abandona sua missão natural, toda a sociedade sangra.


sábado, 12 de julho de 2025

A Verdade da Liberdade: Só é Livre Quem Se Entrega a Deus

A Verdade da Liberdade: Só é Livre Quem Se Entrega a Deus

Vivemos num tempo em que a palavra liberdade se tornou um ídolo. Ela é hasteada como bandeira por todos os ventos ideológicos, entoada nos púlpitos do mundo secular como se fosse o próprio deus que guia os destinos humanos. Mas, à luz da fé cristã, essa liberdade que se proclama nas praças e nas redes não passa de uma miragem: é grilhão disfarçado, cativeiro que se mascara de autonomia.

Só é verdadeiramente livre aquele que se entrega a Deus. Pode parecer contradição, mas é o maior dos paradoxos evangélicos: a liberdade não está em fazer tudo o que se quer, mas em querer somente aquilo que Deus quer. Porque o querer humano, ferido pelo pecado, é caprichoso e cego; mas o querer de Deus é sabedoria eterna, fonte de paz e plenitude.

O homem moderno, ao rejeitar a obediência a Deus, não se tornou mais livre — tornou-se escravo de si mesmo. Santo Agostinho já dizia: “Servus est, qui peccato servit” — escravo é aquele que serve ao pecado. E o pecado é justamente essa rebelião do “eu” contra o Criador. O que parece liberdade — escolher, gozar, possuir — torna-se prisão invisível, pois todo aquele que se fecha à graça se encarcera nas suas paixões.

São Máximo, o Confessor, afirmou com precisão:

“A liberdade consiste em mover-se segundo a natureza; o pecado é o movimento contra a natureza.”

Agora, a nossa natureza foi criada para Deus. Viver longe d'Ele é, portanto, viver contra si mesmo. Um peixe fora da água pode se debater com todas as suas forças, mas não é livre — está morrendo. Assim também a alma que se aparta da vontade divina: ela grita por liberdade, mas está sufocando.

Cristo, o verdadeiro Homem, nos revela o caminho da liberdade: “Não se faça a minha vontade, mas a Tua” (Lc 22,42). No Horto das Oliveiras, Ele nos mostra que a entrega à vontade do Pai é o ápice da liberdade. O demônio, no deserto, oferecido a Jesus pela liberdade do mundo: pão sem cruz, poder sem obediência, glória sem sacrifício. E o Senhor decidiu. Porque a liberdade sem Deus é tentativa, é desvio, é queda.

São João Damasceno ensinou:

“Liberdade é poder escolher o bem segundo a reta razão, iluminada pela fé.”

Sem essa luz, a escolha deixa de ser liberdade e se torna erro. Por isso, a Igreja sempre uniu a liberdade à verdade . Como ensinou São João Paulo II na Veritatis Splendor , "a liberdade não é um fim em si mesma, mas está ao serviço da verdade e do bem". O homem só se realiza plenamente quando adere à Verdade, que é uma Pessoa: Jesus Cristo.

A história da Igreja é repleta de homens e mulheres que viveram essa liberdade santa: mártires que entregaram a própria vida, religiosos que renunciaram ao mundo, mães de família que ofereceram a cada dia no silêncio da fidelidade.

São Francisco de Assis, ao despir-se diante do pai, diante do bispo, não ficou nu — ficou livre. Santa Teresa de Ávila, ao escrever "Só Deus basta" , libertou-se de todas as ilusões passageiras. E São Paulo, o apóstolo das algemas, escreveu da prisão cartas que libertam almas até hoje.

Eles eram livres porque estavam presos a Deus. E isso basta.

A verdadeira liberdade não está em fazer o que eu quero, mas em me tornar quem eu sou aos olhos de Deus. E só posso ser quem sou, quando me deixo moldar pelas mãos do Criador.

Assim como o barro não se modela sozinho, a alma humana não se salva sozinha. A liberdade não é conquistada, mas recebida. E ela é recebida no momento em que ajoelho, me calo, e digo: “Fiat voluntas tua” — “Seja feita a Tua vontade.”

Eis a verdade da liberdade: só é livre quem se entrega a Deus. 




O Feminismo Como Vingança: Ideologia Travestida de Liberdade

O Feminismo Como Vingança: Ideologia Travestida de Liberdade Há movimentos que nascem da dor e se transformam em virtude; e há os que nasce...