Salve Maria!
Há acontecimentos que nos deixam perplexos, não apenas pela dor que provocam, mas pelo que revelam sobre o estado dos corações. Nos últimos dias, um fato ocorrido no Paraguai gerou indignação e tristeza entre aqueles que acompanham a missão do padre Tiago: o mosteiro de sua comunidade, construído ao longo de anos com esforço, oração e doações, foi tomado à força pelo próprio doador do terreno, que, apoiado por policiais, expulsou os religiosos que lá viviam.
A versão oficial tenta se amparar em documentos: dizem que a escritura não esta no nome do padre, nem da associação que administra a comunidade. Pode ser. Mas quem conhece a história sabe que, muito antes da letra fria da lei, é o suor, o trabalho, o sacrifício e a entrega total de vida que o padre Tiago e seus irmãos depositaram naquele lugar. Um mosteiro não se ergue apenas de pedra e cimento; ergue-se de joelhos dobrados, de madrugadas de vigília, de refeições frugais, de abraços dados aos pobres que batem à porta.
O que testemunhamos agora é uma cena dolorosa: um sacerdote, que gastou seus anos mais fecundos ocorridos a Deus e às almas naquele recanto, impedido de entrar no próprio mosteiro de sua ordem. Frades e uma religiosa expulsa como se fossem invasores. Um espaço que era casa de oração, transformado em campo de disputa. E, para completar, o uso da força policial — fria, mecânica, sem a menor compaixão pelo hábito religioso que, por séculos, foi sinal de paz.
Não se trata aqui de ignorar possíveis divergências. Todos sabem que, ao longo dos anos, surgiram diferenças de opinião, modos distintos de conduzir a missão, conflitos humanos que são inevitáveis onde há convivência. Mas desde quando essas diferenças justificam a ruptura abrupta e sem misericórdia? Desde quando uma caridade fraterna pode ser sacrificada em nome de conveniências administrativas?
O padre Tiago não foi um peso morto para sua comunidade. Muito pelo contrário. Além de celebrar os sacramentos, esteve presente nas dores e alegrias de incontáveis fiéis, ajudou financeiramente, acolheu famílias sem teto, alimentou quem tinha fome, pagou contas que não eram suas. Muitos que hoje vivem dignamente receberam dele auxílio concreto. A gratidão, nestes casos, não é uma formalidade: é um dever moral.
E se, de fato, houve uma decisão a ser tomada quanto ao futuro da missão, o caminho cristão nunca será uma tomada pela força. Cristo não entrou no coração dos homens como um policial batendo à porta, mas como o Bom Pastor que chama suas ovelhas pelo nome. Um ato desses, frio e abrupto, não só fere a dignidade dos expulsos, mas também vence a confiança da comunidade que olha para aquele mosteiro como um sinal da presença de Deus.
O mais doloroso, porém, não é apenas o fechamento físico das portas. É uma simbologia de ver um altar — construído com amor, orações e renúncias — ser arrancado das mãos de quem o plantou e regou durante anos. É como ver um pai de família ser expulso da própria casa pelos próprios parentes. O peso dessa cena recai sobre todos nós, porque a Igreja não é apenas feita de pedras e terrenos, mas de vínculos espirituais que, quando rompidos de forma tão brusca, deixam cicatrizes profundas.
E o que dizer da dimensão espiritual? Um mosteiro não é apenas um “imóvel religioso”: é uma fortaleza de oração, um lugar onde o mundo é sustentado pelo clamor silencioso de almas consagradas. Quem retira um monge ou uma freira do seu claustro, sem justa causa e sem caridade, comete um ato grave, não apenas contra eles, mas contra todos aqueles que dependem, muitas vezes sem saber, orações daquelas para permanecerem firmes na fé.
Hoje, ao olhar para este episódio, não podemos deixar de nos perguntar: onde ficou a caridade? Onde ficou o mandamento do Senhor, “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”? Onde ficou a consciência de que, na Igreja, as mesmas questões materiais devem ser resolvidas à luz do Evangelho?
A tragédia não é apenas no que foi feito, mas na forma como foi feita. Tomar à força, com o peso da lei humana, um espaço que nasceu do amor e da doação é agir como se a graça de Deus fosse substituída por papéis carimbados. É esquecer que “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Cor 3,6).
O caso do padre Tiago não é apenas uma disputa de propriedade: é um alerta para todos nós sobre como podemos, se não estivermos vigilantes, deixar que o legalismo e as mágoas pessoais abafem a voz do Evangelho. Oremos para que haja reconciliação, que a verdade e a justiça caminhem juntas, e que, acima de tudo, a caridade volte a ter a última palavra.
Porque, no fim das contas, um mosteiro não é apenas um prédio. É um pedaço do Céu plantado na terra. E arrancar esse Céu das mãos de quem o construído com amor é algo que não se apaga facilmente da memória dos fiéis.
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