sábado, 12 de julho de 2025

A Verdade da Liberdade: Só é Livre Quem Se Entrega a Deus

A Verdade da Liberdade: Só é Livre Quem Se Entrega a Deus

Vivemos num tempo em que a palavra liberdade se tornou um ídolo. Ela é hasteada como bandeira por todos os ventos ideológicos, entoada nos púlpitos do mundo secular como se fosse o próprio deus que guia os destinos humanos. Mas, à luz da fé cristã, essa liberdade que se proclama nas praças e nas redes não passa de uma miragem: é grilhão disfarçado, cativeiro que se mascara de autonomia.

Só é verdadeiramente livre aquele que se entrega a Deus. Pode parecer contradição, mas é o maior dos paradoxos evangélicos: a liberdade não está em fazer tudo o que se quer, mas em querer somente aquilo que Deus quer. Porque o querer humano, ferido pelo pecado, é caprichoso e cego; mas o querer de Deus é sabedoria eterna, fonte de paz e plenitude.

O homem moderno, ao rejeitar a obediência a Deus, não se tornou mais livre — tornou-se escravo de si mesmo. Santo Agostinho já dizia: “Servus est, qui peccato servit” — escravo é aquele que serve ao pecado. E o pecado é justamente essa rebelião do “eu” contra o Criador. O que parece liberdade — escolher, gozar, possuir — torna-se prisão invisível, pois todo aquele que se fecha à graça se encarcera nas suas paixões.

São Máximo, o Confessor, afirmou com precisão:

“A liberdade consiste em mover-se segundo a natureza; o pecado é o movimento contra a natureza.”

Agora, a nossa natureza foi criada para Deus. Viver longe d'Ele é, portanto, viver contra si mesmo. Um peixe fora da água pode se debater com todas as suas forças, mas não é livre — está morrendo. Assim também a alma que se aparta da vontade divina: ela grita por liberdade, mas está sufocando.

Cristo, o verdadeiro Homem, nos revela o caminho da liberdade: “Não se faça a minha vontade, mas a Tua” (Lc 22,42). No Horto das Oliveiras, Ele nos mostra que a entrega à vontade do Pai é o ápice da liberdade. O demônio, no deserto, oferecido a Jesus pela liberdade do mundo: pão sem cruz, poder sem obediência, glória sem sacrifício. E o Senhor decidiu. Porque a liberdade sem Deus é tentativa, é desvio, é queda.

São João Damasceno ensinou:

“Liberdade é poder escolher o bem segundo a reta razão, iluminada pela fé.”

Sem essa luz, a escolha deixa de ser liberdade e se torna erro. Por isso, a Igreja sempre uniu a liberdade à verdade . Como ensinou São João Paulo II na Veritatis Splendor , "a liberdade não é um fim em si mesma, mas está ao serviço da verdade e do bem". O homem só se realiza plenamente quando adere à Verdade, que é uma Pessoa: Jesus Cristo.

A história da Igreja é repleta de homens e mulheres que viveram essa liberdade santa: mártires que entregaram a própria vida, religiosos que renunciaram ao mundo, mães de família que ofereceram a cada dia no silêncio da fidelidade.

São Francisco de Assis, ao despir-se diante do pai, diante do bispo, não ficou nu — ficou livre. Santa Teresa de Ávila, ao escrever "Só Deus basta" , libertou-se de todas as ilusões passageiras. E São Paulo, o apóstolo das algemas, escreveu da prisão cartas que libertam almas até hoje.

Eles eram livres porque estavam presos a Deus. E isso basta.

A verdadeira liberdade não está em fazer o que eu quero, mas em me tornar quem eu sou aos olhos de Deus. E só posso ser quem sou, quando me deixo moldar pelas mãos do Criador.

Assim como o barro não se modela sozinho, a alma humana não se salva sozinha. A liberdade não é conquistada, mas recebida. E ela é recebida no momento em que ajoelho, me calo, e digo: “Fiat voluntas tua” — “Seja feita a Tua vontade.”

Eis a verdade da liberdade: só é livre quem se entrega a Deus. 




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