Há uma passagem em Assim falou Zaratustra, de Nietzsche, que ecoa como conselho e advertência ao mesmo tempo: leve o tempo que for para descobrir aquilo que almeja. Depois de descoberto, não recue ante nenhum pretexto.
Traduzindo isso para o nosso cotidiano, é como se Nietzsche nos dissesse: “Demore o tempo que precisar para encontrar qual é a sua praia. Mas, quando encontrá-la, não volte atrás nem para tomar impulso.”
Vivemos em uma era da pressa. O imediatismo virou uma espécie de vício social. Queremos respostas rápidas, resultados instantâneos, sucesso sem demora. Mas a verdade é que as coisas mais autênticas da vida não se encontram em atalhos: elas pedem paciência, maturação, tempo de espera e até um certo silêncio. Descobrir o que se deseja de fato — a vocação, o caminho, a verdade interior — é uma jornada lenta, muitas vezes dolorosa.
Nietzsche sabia disso. Seu chamado não era para a pressa, mas para a fidelidade. O perigo não está em demorar para descobrir, mas em abandonar aquilo que já se revelou como verdadeiro. É aqui que entra a segunda parte de sua advertência: não recue. Não invente desculpas, não se esconda atrás de pretextos, não permita que o medo ou as pressões externas desfigurem o seu propósito.
“Encontrar a sua praia” é uma expressão vulgar, mas que traduz de forma quase perfeita a força do pensamento nietzschiano: quando você se depara com aquilo que dá sentido à sua vida, não desperdice esse encontro. Seguir o próprio caminho exige coragem — e coragem, no fim das contas, é fidelidade ao que já foi descoberto.
Talvez Nietzsche, com sua linguagem incendiária, quisesse nos sacudir para longe da mediocridade, onde muitos passam a vida inteira fugindo de si mesmos. O filósofo aponta para uma verdade incômoda: não é o mundo que mais nos engana, mas nós mesmos, quando recuamos diante daquilo que nos chama.
Portanto, que a lição seja clara: demore o tempo que precisar. Reze, estude, viaje, caia e levante. Mas, quando encontrar a sua praia, não recue. Porque viver de verdade é permanecer fiel ao que se descobriu como autêntico — e não trocar isso por qualquer conveniência passageira.
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