Parece familiar? Pois é.
Vivemos numa época saturada de informação, mas empobrecida de reflexão. Nunca tivemos tanto acesso à “luz”, e nunca estivemos tão confortáveis nas sombras. O homem contemporâneo não está preso por correntes de ferro, mas por correntes de vício, distração e conformismo. A caverna de hoje tem nome: redes sociais, polarizações vazias, narrativas fabricadas. São sombras que se movem rápido, piscam, brilham — e nos dão a falsa sensação de estarmos vendo tudo, quando na verdade vemos nada.
O problema é que a compreensão do mito exige mais que saber “resumir” a história. É preciso reconhecer-se como um dos prisioneiros — e isso fere o orgulho moderno. Admitir que tivemos boa parte da vida enganada é um golpe que poucos suportam. É mais fácil rir de quem tenta mostrar a luz do sol do que encarar a clareza que denuncia nossas ilusões.
A sociedade atual tornou-se tão alérgica à verdade quanto aos prisioneiros à luz. A verdade não é confortável, não é moldável ao gosto do consumidor. Ela exige conversão, humildade e renúncia — virtudes em extinção. Por isso, o mito da caverna é hoje limitado a uma curiosidade escolar, encaixotado na prateleira de “filosofia introdutória”, quando deveria ser um alarme espiritual, um chamado para acordar.
A maior tragédia não é estarmos na caverna. É amarmos as correntes.
O homem contemporâneo não teme a escuridão — teme a luz.
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