domingo, 22 de junho de 2025

Sacerdócio Casado nas Igrejas do Oriente: Entre a Tradição e os Modismos Ocidentais

 


Sacerdócio Casado nas Igrejas do Oriente: Entre a Tradição e os Modismos Ocidentais

Quando se fala em padres casados, muita gente do Ocidente, mal informada ou com pressa de resolver a crise vocacional, já abre um sorriso de orelha a orelha achando que encontrou a solução mágica: "Ah, é só permitir que os padres casem que tudo se resolve!" Pobres almas... Mal sabem elas que estão misturando alhos com bugalhos e esquecendo séculos de história e teologia.

O sacerdócio casado nas Igrejas do Oriente não é fruto de assembleias sinodais, nem de votações pastorais, muito menos de pressões sociais. É um costume que remonta aos tempos apostólicos, nascido no seio das primeiras comunidades cristãs, cultivado com reverência e com uma disciplina clara: casado antes da ordenação, e ponto final.

Padre casado que ficou viúvo? Não casa de novo.
Padre ordenado solteiro? Permanece celibatário até o fim.
Simples assim. Sem modernismos, sem “flexibilizações pastorais”.

Quem acha que ser padre casado é levar uma vida mais fácil, deveria conversar com qualquer sacerdote oriental. O homem carrega o altar e o lar nos ombros, cuida da comunidade e da família, vela pelos fiéis e pelos filhos… e no fim do dia, ainda tem que achar tempo para a oração pessoal. Não é vida para frouxos.

O sacerdócio casado não é uma licença para a mediocridade, nem um prêmio de consolação para quem não quis ser celibatário. É uma vocação dupla, com dupla responsabilidade e, muitas vezes, com dupla cruz.

Outro detalhe que muitos esquecem (ou fazem questão de esquecer): no Oriente, só os celibatários se tornam bispos. Quer defender a tradição? Defenda por inteiro. Nada de querer um "padre casado-bispo" como se fosse a coisa mais natural do mundo. No Oriente, o celibato episcopal é sinal de entrega total e liberdade pastoral.

O grande problema é que muitos, do alto de sua ignorância histórica e teológica, olham para o Oriente e enxergam apenas a parte que lhes interessa: "Padres casados? Ótimo! Vamos fazer isso aqui também!"

Mas esquecem que essa prática oriental está inserida num contexto espiritual, cultural e eclesial que foi amadurecido ao longo de séculos. Não é um tapa-buraco para resolver crise vocacional. Quem tenta importar o modelo oriental para o Ocidente, fora das suas raízes, age como quem planta oliveiras no deserto, sem água e sem raízes. Não vai dar fruto.

Nem Modismo, Nem Revolução… Tradição!

O sacerdócio casado no Oriente não é moda, não é revolução, não é "avanço pastoral". É Tradição. Com T maiúsculo.
Quem quiser entender, que estude.
Quem quiser opinar, que primeiro conheça a história.
E quem quiser transformar isso numa bandeira política, que ao menos tenha a decência de não usar o Oriente como desculpa.

No fim, o sacerdócio – seja ele celibatário ou casado – é sempre chamado ao sacrifício, à fidelidade e à configuração com Cristo. O resto… é conversa de quem nunca ajoelhou no silêncio de um altar.






Validade e Licitude dos Sacramentos Pós-Concílio Vaticano II: Uma Análise à Luz da Tradição.



Validade e Licitude dos Sacramentos Pós-Concílio Vaticano II: Uma Análise à Luz da Tradição

A Santa Mãe Igreja, desde os seus primórdios, sempre zelou com firmeza pela preservação da doutrina, da fé e dos sacramentos que, segundo o ensinamento tradicional, devem manifestar e alimentar a fé católica recebida dos apóstolos. Entre esses tesouros, o rito litúrgico ocupa um lugar central, por ser o modo pelo qual a fé é celebrada publicamente. O rito romano tradicional, consolidado no Missal de São Pio V após o Concílio de Trento, foi por séculos o padrão litúrgico universal da Igreja Latina. É importante esclarecer que o Papa São Pio V não criou a Missa , mas, conforme ele mesmo declarou na bula Quo Primum Tempore (1570), restaurou e codificou aquilo que a Igreja sempre celebrou, expurgando os abusos e erros cometidos por séculos de descuido ou heresia.

A Missa chamada de “Tridentina” ou “de sempre” representa, assim, a expressão litúrgica mais fiel da fé católica no Ocidente por mais de quatro séculos. De São Pio V até, pelo menos, o ano de 1957, este rito foi o único oficialmente prescrito para a celebração do Santo Sacrifício da Missa no rito latino, guardando a integridade das fórmulas, a sacralidade do altar e a clara distinção entre o sacerdote e o povo.

Contudo, com as reformas litúrgicas advindas do Concílio Vaticano II e promulgadas por Paulo VI em 1969, a Igreja assistiu ao nascimento de um novo rito, o Novus Ordo Missae , redigido por uma comissão presidida por Dom Annibale Bugnini e influenciada, segundo diversos relatos históricos (inclusive do Cardeal Alfredo Ottaviani), por consultores de tradição protestante. O próprio Ottaviani, em sua Breve Análise Crítica do Novus Ordo , enviada a Paulo VI em 1969, alertava: “O novo rito representa, tanto em seu conjunto quanto em seus detalhes, um afastamento impressionante da teologia católica da Santa Missa, tal como foi formulado na XX sessão do Concílio de Trento”.


Essa nova liturgia, fruto de uma atitude revolucionária e modernista , acabou por obscurecer elementos essenciais da fé, como a centralidade do sacrifício, a presença real de Cristo, a distinção entre o sacerdote ordenado e o fiel leigo. Uma das consequências mais graves dessa ruptura é a crescente banalização do sacerdócio, com a introdução de ministros extraordinários, celebrações por diáconos e, em alguns casos abusivos, por leigos. Essa prática fere diretamente o princípio católico que ensina que somente um sacerdote ordenado pode consagrar validamente a Eucaristia .

Diante desse cenário, é necessário compreender a distinção fundamental entre validade e licitude de um sacramento. Um sacramento é válido quando é realizado com a matéria, forma e utilidade útil para a Igreja. É lícito quando é realizado segundo as normas canônicas e doutrinais legítimas da Igreja. Portanto, ainda que o Novus Ordo pudesse, em algumas circunstâncias, ser considerado válido, sua licitude permanece duvidosa ou comprometida, especialmente quando adicionados a erros doutrinais, litúrgicos ou abusos à comunidade com um falso pontífice.

Assim, se uma Missa tradicional (rito de São Pio V) para celebrada unida a um homem que ocupa o trono de Pedro mas não possui legitimidade papal, tal Missa, ainda que válida , torna-se ilícita . Da forma, uma missa celebrada mesma de acordo com o rito de Paulo VI, por mais piedosa que parece, pode ser inválida se não observar a forma, matéria e intenção corretas, ou se faltar a ordenação válida do celebrante.

Como católicos conscientes da crise atual na Igreja, não podemos ignorar que muitos dos sacramentos celebrados no contexto do modernismo são, na melhor das hipóteses, duvidosos ; e, na pior, nulos e sacrílegos . É dever do fiel buscar não apenas a aparência externa da fé, mas sua substância real , sua conexão com a tradição de dois mil anos. Como nos alertou São Vicente de Lérins: “devemos seguir aquilo que foi crido em todos os lugares, sempre e por todos” .

A Igreja, em sua história, sobreviveu a perseguições, guerras e períodos de silêncio sacramental, mas nunca sobreviveu sem a fé. A fé é superior aos sacramentos enquanto estes existem para sustentá-la. Portanto, não é lícito nem benéfico frequentar sacramentos duvidosos ou ilícitos , ainda que seja a única opção visível. Em vez disso, o fiel deve santificar o domingo com orações, leituras piedosas, e a recitação do Rosário, suplicando a Deus que envie verdadeiros pastores, que celebrem Missas válidas, lícitas e Traduções a Ele .

Por fim, é necessário anunciar que celebrar ou assistir a Missas Unidas a um falso papa , mesmo quando o rito é tradicional, fere a comunhão verdadeira da Igreja e faz com que o sacrifício se torne ilícito. Isso não prejudica espiritualmente os votos, mas também constitui um ato canonicamente punível. Devemos rezar pelo retorno da autoridade legítima, pela fidelidade à Tradição, e por uma fé firme que rejeita qualquer forma de traição aos mandamentos do Senhor.

 "O culto é a expressão da fé. Mude-se o culto, e a fé também será alterada."
-Dom Marcel Lefebvre

sábado, 14 de junho de 2025

Filosofia, Ironia e Loucura: O Desafio do Pensamento Além da Razão

Filosofia, Ironia e Loucura: O Desafio do Pensamento Além da Razão

A filosofia, desde seus primórdios, sempre se dispôs a questionar as verdades lógicas e, ao fazê-lo, buscou ir além da razão convencional. Entre os muitos instrumentos de reflexão filosófica, a ironia se destaca como uma arma afiada, capaz de revelar as fissuras nas certezas do ser humano. A ironia não é meramente uma forma de humor, mas uma estratégia profunda de desconstrução que, muitas vezes, leva o pensamento a uma linha tênue entre a lucidez e a loucura.

Na filosofia, a ironia não é algo trivial. Ela remonta aos diálogos socráticos, onde Sócrates se posicionava como aquele que "não sabia", questionando e desconstruindo as respostas convincentes, para, ao final, revelar a fragilidade do pensamento humano. Mas a ironia de Sócrates era uma ironia do tipo que nega a verdade, para instigar o pensamento a buscar algo mais profundo. Ela não busca fazer o outro ridículo, mas sim afastar a aparência da verdade em direção ao abismo do desconhecido.

Quando o filósofo usa a ironia, ele não afirma nada com certeza. Ele coloca uma questão sem dar uma resposta, como se fosse uma forma de provocar o interlocutor a pensar além dos limites da lógica. Isso é, em essência, um convite para sair da segurança do saber e entrar na incerteza, no caos da dúvida, onde reside uma verdadeira filosofia.

A linha que separa a ironia filosófica da loucura é tênue. A filosofia, em sua busca incessante pelo sentido da vida, pela compreensão do ser, muitas vezes se depara com uma impossibilidade: entender o que, por sua natureza, é indizível. Essa busca incessante pode levar o pensador ao limite de suas faculdades racionais, para um ponto onde a razão já não responde às perguntas, e o discurso começa a parecer desordenado ou até "louco" para quem observa de fora.

Os filósofos mais radicais, como Nietzsche, compreenderam que a razão humana é limitada e que, em algum momento, a busca pela verdade leva ao abismo. "Deus está morto", disse Nietzsche, e com isso, ele não apenas questionava as estruturas religiosas, mas, mais profundamente, os próprios fundamentos do pensamento humano. Essa afirmação ecoa como uma ironia cruel, que desfaz toda a ordem estabelecida e coloca o homem em um estado de desamparo existencial. Em certo sentido, o filósofo que questiona tudo está, como o louco, indo além dos limites da sanidade convencional.

Se a filosofia é, por sua natureza, uma reflexão profunda e imersiva sobre a existência, a ironia e a loucura parecem ser seus acompanhantes inseparáveis. Um filósofo que se compromete com o pensamento até suas últimas consequências é aquele que, em certo sentido, se vê solicitado a questionar a própria racionalidade. Ao fazer isso, ele pode ser visto como alguém que ultrapassa os limites da razão, entrando em um campo onde a lógica perde sua força.

Nesse sentido, a ironia se torna uma ferramenta para desconstruir as certezas, e a loucura, uma possível consequência do questionamento profundo e incessante. O louco, em muitos aspectos, é aquele que já não vê mais o mundo sob as lentes convencionais, mas sim de um modo desconcertante e revelador. E é esse mesmo olhar que, de maneira irônica, pode trazer à tona uma realidade oculta de nossa existência.

Ao abordar a filosofia, a ironia e a loucura, somos desafiados a compensar nossas próprias certezas e nossa aventura não desconhecida. A ironia, longe de ser uma forma de deboche, é uma estratégia filosófica de desconstrução que coloca a mente à prova, testando seus limites. E a loucura, longe de ser um desvio da razão, pode ser vista como a consequência resultante de um pensamento que não se satisfaz com o óbvio e busca incessantemente pela verdade.

É nesse campo assustador, entre a razão e a loucura, que o verdadeiro filósofo se aventura, e é através dessa tensão que ele revela as verdades mais profundas sobre o ser humano e o mundo. Pois, como já disse o próprio Sócrates, "uma vida sem exame não vale a pena ser vivida". E talvez seja exatamente isso que torna a filosofia, a ironia e a loucura tão interligadas: todas elas nos convocam um olhar para o abismo e, ao fazê-lo, a redescobrir a profundidade de nossa existência.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

O Amor de Vitrine: Reflexões de um Dia dos Namorados no Shopping



O Amor de Vitrine: Reflexões de um Dia dos Namorados no Shopping

Ontem fui ao shopping. Era véspera do Dia dos Namorados. Estava tudo impecavelmente decorado, corações suspensos como frutas em árvores artificiais, músicas melosas tocando no sistema de som e filas nas lojas de perfumes, chocolates e bichinhos de pelúcia. Um cenário cuidadosamente construído para nos fazer sentir que o amor está no ar — ou, pelo menos, no cartão de crédito.

Observei. Senti-me num banco qualquer, como quem assisti a uma peça antiga encenada com novos sensores, mas o mesmo roteiro gasto. Vi casais trocando presentes, jovens e não tão jovens com sacolas coloridas, embalagens de luxo, beijos apressados, selfies ensaiadas. E, no entanto, não vi compromisso.

Vi o mimo. Mas não vi o “sim”.

Vi alianças de prata, mas sem intenção de selar alianças eternas.

Vi o esforço para agradar, mas nenhum esforço para construir juntos uma vida.

Ninguém falou de casamento. Ninguém mencionou seus filhos. Vi paixões intensas, mas passageiras como as vitrines que, em quinze dias, já oferecem vendendo outro feriado qualquer. Vi “relacionamentos” que parecem contratos de locação: sem multa para quem quiser sair a qualquer momento.

Senti um aperto no peito. Não por amargura — Deus me livre disso — mas por uma profunda compaixão por essa geração que aprendeu a chamar de "liberdade" aquilo que é, na verdade, medo disfarçado de autonomia. Medo de doar-se por inteiro, medo de prometer, de sacrificar, de morrer para si mesmo para fazer o outro viver. O amor, hoje, não quer cruz.

Estamos numa crise. Não de consumo — esse vai muito bem, obrigado. Mas de significado. O amor virou performance, e o romantismo uma estética sem substância. Os gestos continuam: flores, jantares, mensagens. Mas o sentido que os sustentava — o desejo de construir um lar, de educar filhos, de envelhecer ao lado de alguém — esvaneceu-se.

Não sou contra o namoro. Pelo contrário. É uma bela escola do amor. Mas um namoro sem rumor, sem vocação à totalidade, torna-se apenas um passatempo. E o amor não é passatempo. É vocação. É projeto. É semente lançado no solo com a esperança de frutos — não apenas flores.

Enquanto isso, seguimos vendendo casais sorrindo para selfies, mas fugindo da entrega. Fazendo juras, mas evitando votos. E por isso nossa sociedade se desmancha em relações opostas como os papéis de presente desempenhados nas lixeiras ao fim do dia.

Que o próximo Dia dos Namorados não seja apenas mais um episódio da novela "Amores de Aparência", mas um convite a redescobrir o que é amar de verdade: com coragem, com fidelidade, com abertura à vida. Com aliança no dedo e no coração.






E se Platão vivesse hoje, no século XXI?

E se Platão vivesse hoje, no século XXI?

Uma caverna? Ó alimentação infinita.
Como sombras? Fake news, filtros de vaidade, frases mastigadas.
Uma verdade? Pisoteada por vozes que gritam mais do que pensam.

Platão talvez trocou a túnica por um blazer amarrotado, abriu
um canal no YouTube chamado A República e ficou soterrado por vídeos de danças e profecias de WhatsApp.

Sócrates? Cancelado antes do segundo café,
culpado de heresia por perguntar demais.
Uma nova academia? Um grupo no Telegram — três membros e uma alma inquieta.

E mesmo assim, ele nos lembraria:

“O castigo dos que se recusam a pensar a política
é viver sob o jugo dos que só pensam nela.”

Veria um mundo intoxicado de dados
e faminto de sentido.

Mas se ainda há quem pergunte,
quem leia entre as linhas,
quem desconfie da primeira resposta…

Talvez Platão sorrisse.
E com a paciência dos que sabem que a verdade não grita,
sentesse.
Para ouvir.
E, quem sabe, ensinando — uma vez mais.

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Santa Teresinha do Menino Jesus: A Grandeza Escondida na Pequenez

 

Santa Teresinha do Menino Jesus: A Grandeza Escondida na Pequenez

Há uma imagem comum — e profundamente equivocada — que muitos ainda carregam de Santa Teresinha do Menino Jesus: a de uma santinha doce, frágil, quase infantilizada, enredada numa espiritualidade melosa e ingênua. Nada poderia estar mais longe da verdade. A leitura rasa de História de uma Alma tem sido feita com que muitos veem sua “pequena via” como uma trilha sentimental, cândida, quase romântica. Mas Santa Teresinha não era uma florzinha de estufa — era uma tocha de fogo no Carmelo.

Ler as obras completas de Santa Teresinha — e não apenas os trechos isolados, desgastados pela reprodução devocional — é deparar-se com uma alma que compreendeu o Mistério da Cruz como poucos. Sua santidade não é ausência de lutas, mas não é modo como oferecer cada gota de sofrimento, cada segurança espiritual, como incenso queimando diante de Deus. Não era uma mulher que “sentia” muito. Era uma mulher que escolheua amar , mesmo quando não sentia nada.

E isso muda tudo.

A sua “infância espiritual” é um eco direto do Evangelho: “Se não vos fizerdes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus”. Mas essa infância não é sentimentalismo — é confiança heróica, é abandono total, é aceitar ser pequeno quando o mundo exige grandeza artificial. Sua pequena via é, na verdade, uma montanha íngreme, planejada de estrada simples.

A História de uma Alma não é uma biografia no sentido moderno, tampouco um tratado de teologia. É um relacionamento íntimo, um testamento de amor, escrito sob conformidade. Ali, vemos os bastidores da alma que se fez pequenina para ser gigante no Céu. Não é uma narrativa para ser lida com pressa ou com os olhos do mundo, mas com o coração disponível para se deixar transformar.

Quem lê Teresinha apenas como quem folheia um diário piedoso, perde o tesouro escondido. Ali há uma mística poderosa, revelada aos grandes doutores da Igreja. Uma diferença? Ela diz tudo com a linguagem dos simples. E é isso que mais assusta: sua profundidade se esconde na superfície.

Quando João Paulo II a declarou Doutora da Igreja, muitos estranharam: “Mas o que ela escreveu de tão grande?”. Essa pergunta já denuncia o olhar invejado. Teresinha não fez tratados densos em latim, mas encarnou com radicalidade o Evangelho. E isso é o que mais falta hoje: não tanto teologia que se lê, mas teologia que se vive.

Santa Teresinha entendeu que ser santo não é fazer coisas extraordinárias, mas fazer o ordinário com amor extraordinário. E isso exige uma coragem que poucos têm.

Vivemos tempos em que tudo precisa parecer grande, complexo, inovador. Teresinha caminha na contramão: ela nos lembra que Deus se inclina sobre o pequeno, o escondido, o nada. Ela não quis ser santa à força de penitências espetaculares, mas entregando os detalhes: o sorriso que custa, o silêncio que salva, a dor que ninguém vê.

Sua via não é fuga, é enfrentamento. É descer ao fundo da própria alma e ali descobrir que é o Amor quem nos sustenta.

É hora de devolver a Santa Teresinha sua verdadeira estatura: não a de uma bonequinha piedosa, mas a de uma gigante da fé, uma guerreira escondida sob véus de ternura. A infância espiritual que ela nos propõe é revolucionária: é o abandono radical nas mãos de Deus.

Santa Teresinha do Menino Jesus não é pequena. Ela é, nas palavras do próprio Cristo, uma das maiores no Reino dos Céus — justamente porque se fez a menor de todos.

domingo, 1 de junho de 2025

O Verme, a Carne e a Imortalidade: Uma Dedicatória à Literatura Brasileira.

 

O Verme, a Carne e a Imortalidade: Uma Dedicatória à Literatura Brasileira

Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico, como saudosa lembrança, estas memórias póstumas.

Assim se abre Memórias Póstumas de Brás Cubas , não com perfume de flores frescas ou promessas vãs, mas com o hálito da morte e um sorriso enviado. Nada de véus, nada de salamaleques. Machado de Assis não oferece flores ao leitor: oferece ossos. Com essa lâmina inicial, fria e definitiva, ele crava na pedra da literatura brasileira a sua heresia inaugural. Escrever, não para agradar — mas para desenterrar. A primeira lição é clara como um epitáfio: aqui, não se corta o público — escreve-se para os vermes. Eles sim, críticos honestos, imunes a modismos e vaidades.

Ah, uma literatura brasileira! Nascida entre a senzala e o salão, ela pulsa com sangue contraditório, profundamente humano, cruel e místico. Enquanto os românticos se afogavam em lágrimas de papel-perfumado, Machado empunhava a pena como um bisturi, abrindo as vísceras da alma com eficácia cirúrgica. Não há ilusão nem ornamento — há apenas o crucifixo da existência, esculpido em prosa.

Quem lê essa dedicatória sem estremecer, ou leu superficialmente... ou já foi devorado por dentro.

Machado não oferece seu livro a uma musa etérea, nem ao Deus dos altares, nem ao “povo” — esse ente abstrato tão interessante usado e tão pouco lido. Dedicou-o ao verme. Porque o verme não elogia, o verme não interpreta. Ele consome. E nisso há uma espécie de justiça. O verme é o único leitor que nos lê por inteiro — da epiderme ao osso. É a ele que Machado confia em sua obra, porque nele reconhece o único olhar verdadeiramente imparcial da eternidade.

Essa dedicatória não é mero artifício: é um testamento. Um gesto que fere como um punhal e ilumina como relâmpago. É uma declaração de princípios de uma literatura que não veio para consolar, mas para escancarar. Um chamado à lucidez sem eufemismos. À arte sem maquiagem.

E como isso nos diz respeito!

Machado é o ápice da literatura brasileira porque compreendeu o país por dentro — um país que sorri enquanto apodrece, que sonha em versos enquanto tropeça em injustiças. Ele escreve do alto do mausoléu, mas com os pés fincados no chão batido do Brasil. Sua ironia não é deboche: é o retrato reluzente de nossa hipocrisia cotidiana. Lemos, rimos, engasgamos — porque ali é a alma brasileira: trágica, farsesca, encantadora.

Memórias Póstumas de Brás Cubas não é só um romance: é um réquiem para o ego, uma missa literária onde o defunto é o narrador e o leitor é o cadáver adiado. Publicado em 1881, continua a trovejar em meio à mediocridade branda do nosso presente editorial. Num mundo sedento por likes e frases feitas, essa dedicatória ecoa como uma profecia esquecida: a verdadeira literatura não bajula — ela corroi, desnuda, e permanece.

Celebremos, pois, esse trecho inaugural como quem lê uma escritura sagrada. Porque, de certo modo, é. Uma inscrição na lápide da vaidade, uma oferta à lucidez, um brinde aos que ousam escrever como se já fizeram morrido — e, por isso mesmo, vivem para sempre.

Machado entregou seu livro ao verme, mas deixou a nós — pobres vivos — a dádiva amarga da sua genialidade. E que fortuna é essa: sermos lidos por um morto mais vivo do que todos nós.

sábado, 31 de maio de 2025

As Igrejas do Oriente: Tradição Viva e Riqueza Esquecida

As Igrejas do Oriente: Tradição Viva e Riqueza Esquecida

Por Matheus Lino

Há, no Oriente, uma chama antiga que ainda arde, mesmo quando o Ocidente já soprou tantas vezes contra ela. As Igrejas Orientais — Católicas ou Ortodoxas — permanecem como sentinelas da Tradição, com os pés fincados na terra santa da memória e os olhos voltados para o Céu. Eles são, ao mesmo tempo, museus vivos e oficinas do sagrado, onde a fé não se adapta ao tempo, mas o tempo é que é moldado pela fé.

Quem entra numa igreja maronita no Líbano, numa catedral copta no Egito, ou num mosteiro ortodoxo na Geórgia, não pisa apenas um chão sagrado — pisa a história. Ali, cada ícone, cada canto litúrgico, cada gesto do sacerdote está carregado de séculos de continuidade. Não há aqui espaço para invenções litúrgicas nem para modismos pastorais. O culto não se moderniza — ele se mantém. E por isso mesmo, toca a alma com uma profundidade que só a permanência pode alcançar.

É fácil, do conforto da nossa modernidade ocidental, olhar para essas Igrejas como relíquias — belas, sim, mas ultrapassadas. Grande erro. O que para nós parece arcaico, para eles é vital. A Liturgia de São João Crisóstomo, rezada há mais de mil anos, continua a ser o coração pulsante das Igrejas Bizantinas. O aramaico da liturgia síria não é apenas uma língua morta — é a língua que o próprio Cristo falava. Eles não preservam o antigo por saudosismo, mas por fidelidade.

Vivemos uma era de crise: moral, espiritual, identitária. As compras vazias, os altares se desfiguram, a fé vira entretenimento. E, nesse cenário enevoado, as Igrejas do Oriente brilham como um farol firme e intenso. Elas não titubeiam, não negociam a verdade, não embarcam em experimentações. Iluminam não com holofotes, mas com a luz serena da Tradição — uma luz que não ofusca, mas revela. Em tempos sombrios, sua fidelidade resplandece com ainda mais força, mostrando que há, sim, uma rota segura no meio das trevas.

Essas roupas não são apenas belas: são mártires. Sofreram sob o Islã, sob o comunismo, sob o descaso do Ocidente. Padres degolados, paramentos incendiadas, fiéis perseguidos — tudo isso é realidade recente, não apenas nota de rodapé histórico. E, no entanto, continuam. Porque sabemos que a cruz não é um símbolo de decoração, mas o caminho da salvação. A fidelidade deles, ainda que ignorada pela Roma moderna ou pelos teólogos de poltrona, é um testemunho vivo de que a fé verdadeira não se vende ao mundo.

O Ocidente, em sua pressa por novidade, esqueceu que a alma humana anseia por raízes. Não é com holofotes no altar nem com slogans de autoajuda que se convertem corações. É com silêncio, com mistério, com o peso do sagrado. As Igrejas do Oriente têm isso em abundância. São um antídoto para a banalização da fé, um lembrete de que Deus não é nosso amiguinho, mas o Senhor dos Exércitos.

Talvez seja hora de voltarmos os olhos para o Oriente. Não com o olhar curioso de quem visita um museu, mas com a humildade de quem deseja aprender. Lá, entre os sinos de Alepo e os cânticos de Kiev, pode estar o que perdemos: a noção de que a Tradição não é um fardo, mas uma herança — e que, sem ela, a fé torna-se apenas uma sombra do que foi.


sexta-feira, 30 de maio de 2025

A Crise da Igreja Moderna: Fé, Verdade e Confusão nos Tempos Finais


 A Crise da Igreja Moderna: Fé, Verdade e Confusão nos Tempos Finais

Vivemos tempos sombrios para a fé cristã. O cenário atual da Igreja, em suas diversas expressões, reflete uma crise profunda que não é apenas moral ou estrutural, mas, sobretudo, espiritual e doutrinária. É uma crise que se manifesta na perda do senso da verdade, na diluição da fé e na confusão generalizada sobre o que significa ser cristão nos últimos tempos.

A fé que uma vez foi transmitida “uma vez por todos os santos” (cf. Judas 1,3) parece cada vez mais relativizada, adaptada, domesticada. Muitos púlpitos deixaram de anunciar o arrependimento, a cruz, a necessidade da graça e da conversão. Em seu lugar, proliferaram discursos motivacionais, sentimentalismos teológicos e adaptações ao espírito do mundo.

Santo Atanásio, no século IV, ao combater a heresia ariana, dizia:

“Eles têm os templos, mas nós temos a fé.”

Hoje, quantos templos ainda mantêm a fé completa? Quantas comunidades ainda guardam o depósito apostólico sem concessões ao relativismo?

A liturgia, espelho da fé, sofreu e ainda sofre uma descaracterização sem precedentes. Quando o sagrado se torna banal, o homem deixa de se encontrar com Deus e passa a celebrar a si mesmo. O antropocentrismo invadiu não apenas a teologia, mas o culto. Canta-se ao homem, prega-se o bem-estar, e um pouco se fala de pecado, justiça ou modernidade.

São Basílio Magno já alertava no século IV:

“A doutrina dos Padres foi desprezada, as tradições apostólicas foram rejeitadas, e os imitadores das novidades estão em toda parte.”

O que antes era um alerta tornou-se, hoje, um retrato doloroso da realidade.

Ideologias seculares, movimentos políticos e agendas anticristãos encontram-se hoje abrigados em muitas lideranças eclesiásticas. O Evangelho, que exige conversão e renúncia ao mundo, é frequentemente reinterpretado para comportamentos e doutrinas obstinadas que são frontalmente contrários à Revelação divina.

A moral cristã está sendo redesenhada por comissões, sínodos e teólogos progressistas, como se a Verdade pudesse ser objeto de voto ou revisão.

Cristo nos anuncia sobre os tempos do fim:

"Muitos falsos profetas se levantarão e enganarão a muitos. E por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará." (Mt 24,11-12)

A confusão que assola a Igreja moderna é, para muitos santos e estudiosos, um dos sinais mais claros de que estamos nos tempos finais. Não se trata de sensacionalismo, mas de vigilância espiritual. As profecias de La Salette, Fátima, Akita e de tantos místicos da Tradição apontam para uma grande apostasia, que precederia um tempo de purificação.

Diante dessa crise, Deus levanta um remanescente fiel. Homens e mulheres que, mesmo em meio à confusão, permanecem firmes na fé dos Apóstolos, apegados à Sagrada Escritura, à Tradição e à vida sacramental autêntica. Estes não seguem as modas do mundo, mas resistem com coragem, como sentinelas da verdade.

São Paulo exortava Timóteo:

"Prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, convence, repreende, exorta com toda paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não resistirão a sã doutrina."         (2Tm 4,2-3)

Esse tempo chegou. Cabe a cada cristão decidir: será cúmplice da confusão ou guardião da Verdade?

Voltar às fontes da fé: Ler os Evangelhos, meditar as cartas dos Apóstolos, estudar os Santos Padres.

Fidelidade à doutrina perene: A fé não evolui como ideologia. Ela é profunda, mas não muda em sua essência.

Cultivar a vida sacramental autêntica: Confissão frequente, Missa reverente, comunhão em estado de graça.

Discernir os espíritos: Nem todo discurso piedoso vem de Deus. Muitos lobos usam peles de ovelha.

A crise da Igreja moderna é, ao mesmo tempo, um tempo de prova e de escolha. Muitos se perderão. Mas também muitos se levantarão como luzes de luz, testemunhas da Verdade, profetas para os tempos finais. A confusão dos nossos dias não deve nos paralisar, mas nos chamar à vigilância, à fidelidade e ao ardor missionário.

O Espírito Santo não abandonará a Esposa de Cristo. Mas ela será purificada. Que sejamos encontrados como justos, como aqueles que “guardaram a fé e combateram o bom combate” (cf. 2Tm 4,7).

quinta-feira, 29 de maio de 2025

A Escola sem Alma: A Falta de Sentido na Educação Moderna

 


A Escola sem Alma: A Falta de Sentido na Educação Moderna

Vivemos uma era em que a educação parece ter perdido seu eixo, sua força vital, sua alma. Em um mundo cada vez mais tecnocrático, imediatista e utilitarista, a escola moderna foi sendo esvaziada de seu propósito mais nobre: ​​a formação integral do ser humano. O que vemos, em muitos casos, é a substituição do verdadeiro ensino por uma transmissão de informações fragmentadas, desprovidas de sentido existencial. A escola, que outrara era um santuário de sabedoria e humanismo, transformou-se em uma fábrica de diplomas.

Ao longo das últimas décadas, o modelo educacional passou por uma profunda reestruturação. A pedagogia passou a se curvar diante da exigência do mercado, da produtividade e do desempenho. O resultado? Um reducionismo técnico que trata o aluno como consumidor e o professor como mero operador de sistemas. As disciplinas são apresentadas de modo fragmentado, com conteúdos descolados da realidade profunda da vida, e muitas vezes desconectados entre si.

A antiga pergunta socrática — "O que é o homem?" — deu lugar à obsessão pelas competências e habilidades, medidas por gráficos e provas padronizadas. O ensino deixou de ser um caminho de busca pela verdade, tornando-se uma preparação para exames ou um treinamento para o mercado de trabalho. Nesse processo, perdeu-se o encantamento pelo saber, e o estudo passou a ser visto como obrigações e não como vocação.

O problema da escola moderna não é apenas metodológico, mas antropológico. Quando a visão do homem é perturbada, tudo o que se constrói sobre essa base será assustador. A educação moderna muitas vezes parte de uma concepção materialista e individualista do ser humano — como se fôssemos apenas cérebros ambulantes, prontos para competir e produzir. Mas o ser humano é mais do que isso: é corpo, alma, razão, vontade, afeto e transcendência.

Ao ignorar essa complexidade, a escola se torna incapaz de formar indivíduos com profundidade, senso moral e consciência crítica. Como dizia Viktor Frankl, "quando perdemos o sentido, adoecemos". O mesmo se aplica à educação: uma escola sem sentido, forma aulas sem direção .

Nesse contexto de perda de sentido, muitas pedagogias contemporâneas surgem como tentativas de preencher o vazio, mas sem restaurar o fundamento. Um exemplo emblemático é o chamado “método revolucionário” de Paulo Freire , que, embora seja apresentado como solução definitiva, não é a única alternativa possível — e tampouco a melhor . Longe de uma educação centrada na verdade e na busca do bem, sua proposta, em muitos casos, é estruturada a partir de categorias ideológicas que priorizam a denúncia social e a politização da sala de aula.

A pedagogia freireana, apesar de suas contribuições em contextos específicos, muitas vezes se torna disfuncional quando aplicada como paradigma universal. Ela parte mais de uma intenção revolucionária do que de critérios formativos sólidos , sendo promovida não por seus resultados efetivos, mas por sua consonância com projetos ideológicos contemporâneos. Em contrapartida, a educação clássica , enraizada em séculos de tradição filosófica e teológica, tinha por finalidade específica a formação das virtudes e a elevação da alma — algo cada vez mais raro nas escolas de hoje. O problema, portanto, não é apenas metodológico, mas ontológico e espiritual.

Outro elemento que contribui para o esvaziamento da educação é o abandono das fontes clássicas de sabedoria. A filosofia, a literatura, o latim, a história, a arte e a teologia foram sendo substituídas por disciplinas técnicas ou por conteúdos ideológicos de ocasião. O resultado disso é uma geração que desconhece sua herança cultural, que não tem raízes nem referências, e que vive à deriva em um mar de opiniões efêmeras.

A tradição educativa ocidental, desde Platão até a Escolástica medieval, sempre entendeu que educar é ordenar a alma à verdade e ao bem . O conhecimento foi visto como um caminho de elevação, uma via para se tornar mais plenamente humano. Hoje, isso é como utopia ou romantismo. Mas é justamente isso que falta: alma .

É urgente resgatar uma visão de educação que vá além da técnica, do mercado e das estatísticas. Precisamos de escolas que formem pessoas com consciência, com capacidade de pensar, de julgar e de amar. Isso implica uma formação filosófica, ética e espiritual — não no sentido confessional, mas no sentido de cultivar no aluno a pergunta pelo sentido da vida, da morte, do sofrimento, da liberdade, da beleza e da verdade.

A verdadeira educação não tem essas perguntas, ao contrário: é feita para elas. Como dizia Santo Agostinho, “ninguém pode viver sem se perguntar pelo que ama”. A educação moderna evita essas perguntas, e por isso forma indivíduos vazios, confusos e muitas vezes ansiosos.

A escola perdeu sua alma porque esqueceu o seu fim. Reduziu-se aos meios e se esqueceu dos fins. O ensino virou adestramento, e o professor foi transformado em facilitador. Mas o homem não é uma máquina. E a escola não pode ser um centro de treinamento. Ela deve ser, como dizia Jacques Maritain, um “lugar de cultivo da liberdade interior”.

É tempo de recuperar a educação como vocação humana e espiritual. Devolver à escola sua missão de formar homens e mulheres com inteligência, coração e espírito. Só assim deixaremos de produzir apenas técnicos e consumidores, e voltaremos a formar pessoas plenamente humanas.


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Poema — Ardor do Carmelo Nas montanhas altas e frias do tempo, Silêncio e solidão teciam o alento. Ali viviam, em paz e oração, Eremitas...