As Igrejas do Oriente: Tradição Viva e Riqueza Esquecida
Por Matheus Lino
Há, no Oriente, uma chama antiga que ainda arde, mesmo quando o Ocidente já soprou tantas vezes contra ela. As Igrejas Orientais — Católicas ou Ortodoxas — permanecem como sentinelas da Tradição, com os pés fincados na terra santa da memória e os olhos voltados para o Céu. Eles são, ao mesmo tempo, museus vivos e oficinas do sagrado, onde a fé não se adapta ao tempo, mas o tempo é que é moldado pela fé.
Quem entra numa igreja maronita no Líbano, numa catedral copta no Egito, ou num mosteiro ortodoxo na Geórgia, não pisa apenas um chão sagrado — pisa a história. Ali, cada ícone, cada canto litúrgico, cada gesto do sacerdote está carregado de séculos de continuidade. Não há aqui espaço para invenções litúrgicas nem para modismos pastorais. O culto não se moderniza — ele se mantém. E por isso mesmo, toca a alma com uma profundidade que só a permanência pode alcançar.
É fácil, do conforto da nossa modernidade ocidental, olhar para essas Igrejas como relíquias — belas, sim, mas ultrapassadas. Grande erro. O que para nós parece arcaico, para eles é vital. A Liturgia de São João Crisóstomo, rezada há mais de mil anos, continua a ser o coração pulsante das Igrejas Bizantinas. O aramaico da liturgia síria não é apenas uma língua morta — é a língua que o próprio Cristo falava. Eles não preservam o antigo por saudosismo, mas por fidelidade.
Vivemos uma era de crise: moral, espiritual, identitária. As compras vazias, os altares se desfiguram, a fé vira entretenimento. E, nesse cenário enevoado, as Igrejas do Oriente brilham como um farol firme e intenso. Elas não titubeiam, não negociam a verdade, não embarcam em experimentações. Iluminam não com holofotes, mas com a luz serena da Tradição — uma luz que não ofusca, mas revela. Em tempos sombrios, sua fidelidade resplandece com ainda mais força, mostrando que há, sim, uma rota segura no meio das trevas.
Essas roupas não são apenas belas: são mártires. Sofreram sob o Islã, sob o comunismo, sob o descaso do Ocidente. Padres degolados, paramentos incendiadas, fiéis perseguidos — tudo isso é realidade recente, não apenas nota de rodapé histórico. E, no entanto, continuam. Porque sabemos que a cruz não é um símbolo de decoração, mas o caminho da salvação. A fidelidade deles, ainda que ignorada pela Roma moderna ou pelos teólogos de poltrona, é um testemunho vivo de que a fé verdadeira não se vende ao mundo.
O Ocidente, em sua pressa por novidade, esqueceu que a alma humana anseia por raízes. Não é com holofotes no altar nem com slogans de autoajuda que se convertem corações. É com silêncio, com mistério, com o peso do sagrado. As Igrejas do Oriente têm isso em abundância. São um antídoto para a banalização da fé, um lembrete de que Deus não é nosso amiguinho, mas o Senhor dos Exércitos.
Talvez seja hora de voltarmos os olhos para o Oriente. Não com o olhar curioso de quem visita um museu, mas com a humildade de quem deseja aprender. Lá, entre os sinos de Alepo e os cânticos de Kiev, pode estar o que perdemos: a noção de que a Tradição não é um fardo, mas uma herança — e que, sem ela, a fé torna-se apenas uma sombra do que foi.
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