Vivemos tempos sombrios para a fé cristã. O cenário atual da Igreja, em suas diversas expressões, reflete uma crise profunda que não é apenas moral ou estrutural, mas, sobretudo, espiritual e doutrinária. É uma crise que se manifesta na perda do senso da verdade, na diluição da fé e na confusão generalizada sobre o que significa ser cristão nos últimos tempos.
A fé que uma vez foi transmitida “uma vez por todos os santos” (cf. Judas 1,3) parece cada vez mais relativizada, adaptada, domesticada. Muitos púlpitos deixaram de anunciar o arrependimento, a cruz, a necessidade da graça e da conversão. Em seu lugar, proliferaram discursos motivacionais, sentimentalismos teológicos e adaptações ao espírito do mundo.
Santo Atanásio, no século IV, ao combater a heresia ariana, dizia:
“Eles têm os templos, mas nós temos a fé.”
Hoje, quantos templos ainda mantêm a fé completa? Quantas comunidades ainda guardam o depósito apostólico sem concessões ao relativismo?
A liturgia, espelho da fé, sofreu e ainda sofre uma descaracterização sem precedentes. Quando o sagrado se torna banal, o homem deixa de se encontrar com Deus e passa a celebrar a si mesmo. O antropocentrismo invadiu não apenas a teologia, mas o culto. Canta-se ao homem, prega-se o bem-estar, e um pouco se fala de pecado, justiça ou modernidade.
São Basílio Magno já alertava no século IV:
“A doutrina dos Padres foi desprezada, as tradições apostólicas foram rejeitadas, e os imitadores das novidades estão em toda parte.”
O que antes era um alerta tornou-se, hoje, um retrato doloroso da realidade.
Ideologias seculares, movimentos políticos e agendas anticristãos encontram-se hoje abrigados em muitas lideranças eclesiásticas. O Evangelho, que exige conversão e renúncia ao mundo, é frequentemente reinterpretado para comportamentos e doutrinas obstinadas que são frontalmente contrários à Revelação divina.
A moral cristã está sendo redesenhada por comissões, sínodos e teólogos progressistas, como se a Verdade pudesse ser objeto de voto ou revisão.
Cristo nos anuncia sobre os tempos do fim:
"Muitos falsos profetas se levantarão e enganarão a muitos. E por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará." (Mt 24,11-12)
A confusão que assola a Igreja moderna é, para muitos santos e estudiosos, um dos sinais mais claros de que estamos nos tempos finais. Não se trata de sensacionalismo, mas de vigilância espiritual. As profecias de La Salette, Fátima, Akita e de tantos místicos da Tradição apontam para uma grande apostasia, que precederia um tempo de purificação.
Diante dessa crise, Deus levanta um remanescente fiel. Homens e mulheres que, mesmo em meio à confusão, permanecem firmes na fé dos Apóstolos, apegados à Sagrada Escritura, à Tradição e à vida sacramental autêntica. Estes não seguem as modas do mundo, mas resistem com coragem, como sentinelas da verdade.
São Paulo exortava Timóteo:
"Prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, convence, repreende, exorta com toda paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não resistirão a sã doutrina." (2Tm 4,2-3)
Esse tempo chegou. Cabe a cada cristão decidir: será cúmplice da confusão ou guardião da Verdade?
Voltar às fontes da fé: Ler os Evangelhos, meditar as cartas dos Apóstolos, estudar os Santos Padres.
Fidelidade à doutrina perene: A fé não evolui como ideologia. Ela é profunda, mas não muda em sua essência.
Cultivar a vida sacramental autêntica: Confissão frequente, Missa reverente, comunhão em estado de graça.
Discernir os espíritos: Nem todo discurso piedoso vem de Deus. Muitos lobos usam peles de ovelha.
A crise da Igreja moderna é, ao mesmo tempo, um tempo de prova e de escolha. Muitos se perderão. Mas também muitos se levantarão como luzes de luz, testemunhas da Verdade, profetas para os tempos finais. A confusão dos nossos dias não deve nos paralisar, mas nos chamar à vigilância, à fidelidade e ao ardor missionário.
O Espírito Santo não abandonará a Esposa de Cristo. Mas ela será purificada. Que sejamos encontrados como justos, como aqueles que “guardaram a fé e combateram o bom combate” (cf. 2Tm 4,7).
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