segunda-feira, 9 de junho de 2025

Santa Teresinha do Menino Jesus: A Grandeza Escondida na Pequenez

 

Santa Teresinha do Menino Jesus: A Grandeza Escondida na Pequenez

Há uma imagem comum — e profundamente equivocada — que muitos ainda carregam de Santa Teresinha do Menino Jesus: a de uma santinha doce, frágil, quase infantilizada, enredada numa espiritualidade melosa e ingênua. Nada poderia estar mais longe da verdade. A leitura rasa de História de uma Alma tem sido feita com que muitos veem sua “pequena via” como uma trilha sentimental, cândida, quase romântica. Mas Santa Teresinha não era uma florzinha de estufa — era uma tocha de fogo no Carmelo.

Ler as obras completas de Santa Teresinha — e não apenas os trechos isolados, desgastados pela reprodução devocional — é deparar-se com uma alma que compreendeu o Mistério da Cruz como poucos. Sua santidade não é ausência de lutas, mas não é modo como oferecer cada gota de sofrimento, cada segurança espiritual, como incenso queimando diante de Deus. Não era uma mulher que “sentia” muito. Era uma mulher que escolheua amar , mesmo quando não sentia nada.

E isso muda tudo.

A sua “infância espiritual” é um eco direto do Evangelho: “Se não vos fizerdes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus”. Mas essa infância não é sentimentalismo — é confiança heróica, é abandono total, é aceitar ser pequeno quando o mundo exige grandeza artificial. Sua pequena via é, na verdade, uma montanha íngreme, planejada de estrada simples.

A História de uma Alma não é uma biografia no sentido moderno, tampouco um tratado de teologia. É um relacionamento íntimo, um testamento de amor, escrito sob conformidade. Ali, vemos os bastidores da alma que se fez pequenina para ser gigante no Céu. Não é uma narrativa para ser lida com pressa ou com os olhos do mundo, mas com o coração disponível para se deixar transformar.

Quem lê Teresinha apenas como quem folheia um diário piedoso, perde o tesouro escondido. Ali há uma mística poderosa, revelada aos grandes doutores da Igreja. Uma diferença? Ela diz tudo com a linguagem dos simples. E é isso que mais assusta: sua profundidade se esconde na superfície.

Quando João Paulo II a declarou Doutora da Igreja, muitos estranharam: “Mas o que ela escreveu de tão grande?”. Essa pergunta já denuncia o olhar invejado. Teresinha não fez tratados densos em latim, mas encarnou com radicalidade o Evangelho. E isso é o que mais falta hoje: não tanto teologia que se lê, mas teologia que se vive.

Santa Teresinha entendeu que ser santo não é fazer coisas extraordinárias, mas fazer o ordinário com amor extraordinário. E isso exige uma coragem que poucos têm.

Vivemos tempos em que tudo precisa parecer grande, complexo, inovador. Teresinha caminha na contramão: ela nos lembra que Deus se inclina sobre o pequeno, o escondido, o nada. Ela não quis ser santa à força de penitências espetaculares, mas entregando os detalhes: o sorriso que custa, o silêncio que salva, a dor que ninguém vê.

Sua via não é fuga, é enfrentamento. É descer ao fundo da própria alma e ali descobrir que é o Amor quem nos sustenta.

É hora de devolver a Santa Teresinha sua verdadeira estatura: não a de uma bonequinha piedosa, mas a de uma gigante da fé, uma guerreira escondida sob véus de ternura. A infância espiritual que ela nos propõe é revolucionária: é o abandono radical nas mãos de Deus.

Santa Teresinha do Menino Jesus não é pequena. Ela é, nas palavras do próprio Cristo, uma das maiores no Reino dos Céus — justamente porque se fez a menor de todos.

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