quinta-feira, 29 de maio de 2025

A Escola sem Alma: A Falta de Sentido na Educação Moderna

 


A Escola sem Alma: A Falta de Sentido na Educação Moderna

Vivemos uma era em que a educação parece ter perdido seu eixo, sua força vital, sua alma. Em um mundo cada vez mais tecnocrático, imediatista e utilitarista, a escola moderna foi sendo esvaziada de seu propósito mais nobre: ​​a formação integral do ser humano. O que vemos, em muitos casos, é a substituição do verdadeiro ensino por uma transmissão de informações fragmentadas, desprovidas de sentido existencial. A escola, que outrara era um santuário de sabedoria e humanismo, transformou-se em uma fábrica de diplomas.

Ao longo das últimas décadas, o modelo educacional passou por uma profunda reestruturação. A pedagogia passou a se curvar diante da exigência do mercado, da produtividade e do desempenho. O resultado? Um reducionismo técnico que trata o aluno como consumidor e o professor como mero operador de sistemas. As disciplinas são apresentadas de modo fragmentado, com conteúdos descolados da realidade profunda da vida, e muitas vezes desconectados entre si.

A antiga pergunta socrática — "O que é o homem?" — deu lugar à obsessão pelas competências e habilidades, medidas por gráficos e provas padronizadas. O ensino deixou de ser um caminho de busca pela verdade, tornando-se uma preparação para exames ou um treinamento para o mercado de trabalho. Nesse processo, perdeu-se o encantamento pelo saber, e o estudo passou a ser visto como obrigações e não como vocação.

O problema da escola moderna não é apenas metodológico, mas antropológico. Quando a visão do homem é perturbada, tudo o que se constrói sobre essa base será assustador. A educação moderna muitas vezes parte de uma concepção materialista e individualista do ser humano — como se fôssemos apenas cérebros ambulantes, prontos para competir e produzir. Mas o ser humano é mais do que isso: é corpo, alma, razão, vontade, afeto e transcendência.

Ao ignorar essa complexidade, a escola se torna incapaz de formar indivíduos com profundidade, senso moral e consciência crítica. Como dizia Viktor Frankl, "quando perdemos o sentido, adoecemos". O mesmo se aplica à educação: uma escola sem sentido, forma aulas sem direção .

Nesse contexto de perda de sentido, muitas pedagogias contemporâneas surgem como tentativas de preencher o vazio, mas sem restaurar o fundamento. Um exemplo emblemático é o chamado “método revolucionário” de Paulo Freire , que, embora seja apresentado como solução definitiva, não é a única alternativa possível — e tampouco a melhor . Longe de uma educação centrada na verdade e na busca do bem, sua proposta, em muitos casos, é estruturada a partir de categorias ideológicas que priorizam a denúncia social e a politização da sala de aula.

A pedagogia freireana, apesar de suas contribuições em contextos específicos, muitas vezes se torna disfuncional quando aplicada como paradigma universal. Ela parte mais de uma intenção revolucionária do que de critérios formativos sólidos , sendo promovida não por seus resultados efetivos, mas por sua consonância com projetos ideológicos contemporâneos. Em contrapartida, a educação clássica , enraizada em séculos de tradição filosófica e teológica, tinha por finalidade específica a formação das virtudes e a elevação da alma — algo cada vez mais raro nas escolas de hoje. O problema, portanto, não é apenas metodológico, mas ontológico e espiritual.

Outro elemento que contribui para o esvaziamento da educação é o abandono das fontes clássicas de sabedoria. A filosofia, a literatura, o latim, a história, a arte e a teologia foram sendo substituídas por disciplinas técnicas ou por conteúdos ideológicos de ocasião. O resultado disso é uma geração que desconhece sua herança cultural, que não tem raízes nem referências, e que vive à deriva em um mar de opiniões efêmeras.

A tradição educativa ocidental, desde Platão até a Escolástica medieval, sempre entendeu que educar é ordenar a alma à verdade e ao bem . O conhecimento foi visto como um caminho de elevação, uma via para se tornar mais plenamente humano. Hoje, isso é como utopia ou romantismo. Mas é justamente isso que falta: alma .

É urgente resgatar uma visão de educação que vá além da técnica, do mercado e das estatísticas. Precisamos de escolas que formem pessoas com consciência, com capacidade de pensar, de julgar e de amar. Isso implica uma formação filosófica, ética e espiritual — não no sentido confessional, mas no sentido de cultivar no aluno a pergunta pelo sentido da vida, da morte, do sofrimento, da liberdade, da beleza e da verdade.

A verdadeira educação não tem essas perguntas, ao contrário: é feita para elas. Como dizia Santo Agostinho, “ninguém pode viver sem se perguntar pelo que ama”. A educação moderna evita essas perguntas, e por isso forma indivíduos vazios, confusos e muitas vezes ansiosos.

A escola perdeu sua alma porque esqueceu o seu fim. Reduziu-se aos meios e se esqueceu dos fins. O ensino virou adestramento, e o professor foi transformado em facilitador. Mas o homem não é uma máquina. E a escola não pode ser um centro de treinamento. Ela deve ser, como dizia Jacques Maritain, um “lugar de cultivo da liberdade interior”.

É tempo de recuperar a educação como vocação humana e espiritual. Devolver à escola sua missão de formar homens e mulheres com inteligência, coração e espírito. Só assim deixaremos de produzir apenas técnicos e consumidores, e voltaremos a formar pessoas plenamente humanas.


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