sábado, 20 de dezembro de 2025

O verdadeiro exorcismo do nosso tempo: destruir a mentalidade contraceptiva

 


O verdadeiro exorcismo do nosso tempo: destruir a mentalidade contraceptiva

A Igreja não está sendo derrotada por exércitos, nem por perseguições abertas, nem por debates universitários. Ela está sendo derrotada dentro de casa, no silêncio dos lares católicos que escolheram a esterilidade como virtude e chamaram isso de prudência. O maior combate espiritual do nosso tempo não acontece nas praças públicas, mas nos ventres fechados e nas consciências anestesiadas pela mentalidade contraceptiva.

Não se trata apenas de um erro moral privado. Trata-se de uma ruptura teológica profunda. O cristianismo nasce da Encarnação: o Verbo não se fez ideia, fez-se carne. Deus escolheu entrar na história por um ventre, não por um manifesto. Toda a história da salvação é marcada pela fecundidade: Abraão gera um povo, Israel cresce, Maria concebe, a Igreja se multiplica. Rejeitar a vida é rejeitar o modo como Deus age no mundo.

A mentalidade contraceptiva é, portanto, uma negação prática da Providência. Ela diz, sem palavras, que Deus não é digno de confiança, que o futuro é ameaça e que o Evangelho não merece continuidade. É uma heresia vivida no cotidiano, mais perigosa do que muitas heresias formuladas em tratados, porque se disfarça de normalidade.

O crescimento do Islã não se explica apenas por fatores políticos ou migratórios. Ele cresce porque acredita, porque gera filhos e porque os educa na própria fé com convicção e identidade. Enquanto isso, o catolicismo ocidental envelhece, esvazia igrejas, fecha seminários e tenta compensar a própria infertilidade com discursos. A história não é moldada por slogans, mas por gerações.

Não é necessário que os muçulmanos dominem o mundo pela força. Basta que os cristãos desistam de existir. Um povo que não gera filhos abdica do futuro. Uma Igreja que fecha o ventre fecha, mais cedo ou mais tarde, o altar. Onde não há crianças, não há vocações. Onde não há famílias fecundas, não há Igreja viva.

A contracepção não é apenas um pecado individual entre marido e mulher. Ela cria uma estrutura de morte espiritual. Produz comunidades envelhecidas, paróquias vazias, dioceses sustentadas por quem ainda crê mais do que aqueles que nasceram nelas. Uma Igreja que teme a vida jamais converterá o mundo.

O verdadeiro exorcismo do nosso tempo não se faz com fórmulas raras, mas com fidelidade concreta. Um casal que confia na Providência expulsa o demônio do medo. Uma família numerosa expulsa o demônio do egoísmo. Uma criança educada na fé expulsa o demônio do relativismo. O inferno teme mais um pai que reza com os filhos do que mil discursos piedosos.

Ter filhos, porém, não basta. É preciso educá-los integralmente na fé católica. A fé não se delega ao Estado, nem à escola, nem a uma catequese diluída. Ela se transmite na mesa, no exemplo, na oração diária, na autoridade paterna e materna vivida com caridade e firmeza. Foi assim que o cristianismo venceu o paganismo do Império Romano, não por maioria política, mas por famílias fecundas e convictas.

Não se trata de ódio ao Islã. O cristianismo não cresce pelo ódio, mas pela verdade vivida sem concessões. A religião verdadeira não precisa destruir o outro; ela simplesmente continua existindo. Quem ama a fé a transmite. Quem acredita no Evangelho deseja que ele continue a ser anunciado, vivido e herdado.

O maior exorcismo contra qualquer erro religioso, contra qualquer ideologia anticristã e contra qualquer projeto de mundo sem Deus é simples, antigo e terrivelmente eficaz: católicos que tenham filhos e os eduquem na fé da Igreja. O resto é ruído.

A escolha diante de nós não é política, nem sociológica. É teológica. Ou a Igreja volta a confiar na vida, ou será substituída por quem ainda acredita em algo. A história nunca teve piedade dos estéreis de alma.

sábado, 13 de dezembro de 2025

A Rebelião dos Filhos Contra os Pais: A Tradição como Inimiga

 


A REBELIÃO DOS FILHOS CONTRA OS PAIS: A TRADIÇÃO COMO INIMIGA
Um olhar firme, poético e sem dourar a pílula

Há épocas em que a humanidade parece caminhar em círculos, mas há outras — como a nossa — em que ela parece correr em disparada, tropeçando na própria pressa. Entre tantas marcas do nosso tempo, uma se repete como um refrão amargo: a rebelião dos filhos contra os pais, quase sempre acompanhada pela desconfiança, quando não pelo desprezo, pela tradição. É como se o passado tivesse se tornado um fantasma incômodo, e os pais, guardiões desse passado, fossem os novos inimigos.

Não há necessidade de dramatizar: basta observar. A história doméstica, essa pequena liturgia do cotidiano, está sendo substituída por narrativas importadas, efêmeras, moldadas por telas luminosas que piscam como oráculos modernos. E, no entanto, os antigos sempre souberam: quem rompe com suas raízes, cedo ou tarde, é levado pelo vento como palha seca.

A rebelião juvenil não é novidade — o Eclesiastes já conhecia o gosto dessa teimosia. Mas o que vemos hoje tem algo mais profundo: não é apenas o desejo de trilhar seu próprio caminho, mas de negar o caminho que veio antes. Os pais, antes mestres, tornaram-se figuras ultrapassadas; e a tradição, antes tesouro, tornou-se peso.

Claro, o humor ligeiro não faz mal: às vezes parece que, para alguns jovens, tudo o que existia antes do próprio nascimento pertence à Idade da Pedra. Mas o problema é sério. Quando a memória se torna irrelevante, a humanidade perde o eixo.

Chamar a tradição de inimiga é como chamar o próprio coração de opressor. A tradição — esta palavra tão esquecida — é o acúmulo da experiência humana que sobreviveu ao teste do tempo. É o fio que liga gerações, o canto que ecoa no escuro indicando por onde já passaram os que amamos.

Negá-la não nos torna modernos; nos torna órfãos.
E órfãos espirituais fazem barulho, mas não sabem para onde caminham.

Por trás dessa revolta contra o passado há muitas causas: a velocidade da vida, a perda da autoridade moral, o colapso das instituições, a crença infantil de que ser livre é não ter limites. Mas a verdade permanece: não há liberdade sem direção, e quem rejeita a tradição rejeita o mapa que poderia guiá-lo.

O mais curioso — e trágico — é que essa ruptura produz fome. Uma fome silenciosa, mas profunda. Fome de sentido, de pertença, de uma herança que não se escolhe, mas se recebe.
E quando essa fome não encontra pão, ela se alimenta de ilusões: ideologias rápidas, espiritualidades de balcão, modas emocionais que prometem muito e sustentam pouco.

No fundo, muitos dos que se rebelam contra a tradição não o fazem por convicção, mas por carência. Rejeitam o passado porque nunca lhes foi mostrado como se deve: com beleza, com firmeza, com amor. E porque a sociedade, em vez de ensinar reverência, ensina consumo — até de ideias.

Como recuperar esse laço entre pais e filhos?
Como restaurar o respeito pela tradição num mundo que corre como se estivesse com pressa de se perder?

A resposta é simples, mas não fácil: é preciso testemunho.
Tradição não se impõe como peso, mas se transmite como herança viva. Filhos escutam menos palavras e mais vidas. Pais que vivem o que dizem, que guardam o que receberam, tornam-se faróis para seus filhos — mesmo que, por um tempo, eles desviem o olhar.

E, claro, é preciso coragem. A coragem de remar contra a maré. De dizer aos jovens, com uma sinceridade quase antiga: “Há sabedoria no que veio antes de ti. Não sejas apressado em desprezar.”

No fundo, a tradição não é inimiga.
Inimigo é o vazio que toma o lugar dela quando a expulsamos.

Este artigo não é um lamento romântico pelo passado, mas um alerta. O mundo moderno diz que para avançar é preciso cortar as âncoras. Mas os antigos sabiam o contrário: sem raiz, a árvore não cresce; cai.

A rebelião dos filhos contra os pais é, no fim, uma rebelião contra a própria história — e sem história, ninguém sabe quem é.

Talvez seja hora de escutar novamente o murmúrio dos antigos, que sopram como vento pelas frestas do tempo: “Não se é menor por respeitar o passado; é-se maior porque se está de pé sobre os ombros de gigantes.”

E assim, quem sabe, os filhos possam reencontrar os pais, e ambos reencontrem o caminho que liga o que fomos ao que ainda podemos ser.

O Jejum da Natividade: uma tradição esquecida do Advento cristão


O Jejum da Natividade: uma tradição esquecida do Advento cristão

Historicamente, o tempo que antecede o Natal nunca foi apenas expectativa festiva, mas um período marcado pela sobriedade, pela vigilância espiritual e pelo jejum. Muito antes de o Advento assumir o caráter predominantemente devocional que hoje conhecemos no Ocidente, ele era vivido como verdadeira preparação penitencial para a grande solenidade da Encarnação.

Nas Igrejas Católicas Orientais e entre a maioria dos cristãos ortodoxos, permanece viva a observância do Jejum da Natividade, que se estende de 15 de novembro até a véspera do Natal, totalizando quarenta dias. Trata-se de uma disciplina inspirada no próprio Cristo, que jejuou quarenta dias no deserto, e na antiga sabedoria da Igreja: jejua-se antes de festejar.

Durante esse tempo, os fiéis são tradicionalmente convidados a abster-se de carne e seus derivados, ovos, laticínios, e, conforme os dias prescritos, também de peixe, vinho e azeite. A disciplina concreta pode variar segundo a tradição litúrgica de cada Igreja e segundo a orientação pastoral, mas o espírito permanece o mesmo: simplicidade, moderação e recolhimento.

O jejum, contudo, nunca foi entendido como mero rigor alimentar ou prática exterior. Ele é inseparável da oração mais intensa, da sobriedade de vida, do domínio das paixões e da caridade concreta. A Igreja sempre ensinou que tais regras não devem ser vividas com legalismo, nem com orgulho, mas segundo as forças de cada fiel, sob discernimento e acompanhamento espiritual.

Por isso, mais do que uma obrigação, o Jejum da Natividade é um convite: um chamado a silenciar os excessos, ordenar os desejos e preparar o coração para acolher dignamente o Mistério do Deus que se faz carne. Redescobrir essa tradição não é um retorno arqueológico ao passado, mas um gesto de fidelidade à pedagogia espiritual da Igreja, que sempre soube que a verdadeira festa nasce da purificação interior.


sábado, 6 de dezembro de 2025

A Grua Entre o Céu e a Pedra: A Conversão de Sami

 


A Grua Entre o Céu e a Pedra: A Conversão de Sami

Nas montanhas antigas, onde o vento parece guardar segredos que nenhum homem ousa repetir, vivia um padre eremita de rito oriental. Todos o chamavam simplesmente de Abuna Elias. Seu eremitério era uma pequena grua de madeira, suspensa entre rochedos, ligada à terra por uma ponte estreita que parecia uma fita de silêncio. No topo, como um farol entre nuvens, erguia-se sua capela minúscula, feita de pedra rugosa, incensada pelo vento e iluminada apenas por uma lamparina que jamais se apagava.

Abuna Elias vivia ali há décadas. Não tinha nada além do essencial: um livro das Escrituras — gastas de tanto serem tocadas — um ícone de Cristo Pantocrator, uma cruz de oliveira, um jarro de água e um tapete de oração. E, mesmo assim, sua solidão era constantemente interrompida. Aquelas alturas eram mais procuradas que muitas cidades da terra baixa, porque a fama do velho asceta corria como um rio subterrâneo: silenciosa, mas viva.

Os peregrinos subiam a montanha carregando pecados, dúvidas, dores e desassossegos. Voltavam, quase sempre, como quem reencontra o fôlego.

Certa manhã, porém, subiu até ele um homem diferente.
Chamava-se Sami, filho de comerciantes. A fama dele também corria — mas pelos motivos errados. Era conhecido pelas trapaças, pelas dívidas, pelo ganho fácil que esfarelava vidas. Viviam dizendo que ele tinha o coração duro “como pedra que nem a água tenta polir”.

Sami chegou diante da grua suando, com o ar perdido, como quem foge de si mesmo. Bateu na porta simples feita de madeira esbranquiçada pelo vento.

Abuna… — chamou, a voz embargada.

O velho eremita abriu. Seus olhos eram límpidos como os das pessoas que já colocaram o mundo inteiro aos pés de Deus.

O que procuras, filho? — perguntou, direto como um machado, mas com a suavidade de quem corta para curar.

Sami respirou fundo, incapaz de inventar desculpas naquele lugar onde até as mentiras desistiam de subir.

— Vim porque… já não sei quem sou. — suas mãos tremiam. — Eu arruinei vidas. Enganei pessoas. E agora alguém veio cobrar o que devo… e não falo de dinheiro.

Os olhos de Abuna Elias permaneceram firmes nele. O silêncio da montanha pesou.

Senta-te. — o padre apontou para um banco estreito. — E escuta a tua alma enquanto ela fala a verdade pela primeira vez.

Sami, como criança que aprende a respirar de novo, contou tudo: negócios sujos, traições, a ganância que devora sem nunca se saciar. Terminou dizendo:

— Não sei como mudar. Temo a justiça de Deus… e temo a vergonha dos homens.

Abuna Elias fechou os olhos e permaneceu assim por um longo tempo. O vento soprou como que passando contas de rosário pelo vale.

O medo da justiça nunca converteu ninguém, Sami. — disse ele, enfim. — Mas o desejo de ser verdadeiro… esse muda até pedra em carne.

O eremita caminhou até o pequeno altar. Pegou sua cruz de oliveira — simples, gasta, mas viva.

Filho, a vida não muda quando tu foges do que foste. Muda quando deixas que Deus te colha como um ramo seco e faça dele lenha para uma nova chama.
— Mas e tudo o que fiz? — perguntou Sami. — Como recomeçar?

Abuna Elias sorriu um sorriso curto, desses que carregam séculos de sabedoria.

Recomeçar é simples. Doloroso, mas simples. Vai até cada pessoa que feriste. Pede perdão. Repara o que puderes. O que não puderes, entrega a Deus e vive de modo que tua nova vida responda pelo passado.

Sami engoliu seco.

— E se me rejeitarem?

Então terás vivido a verdade. E a verdade, meu filho, é sempre o começo da santidade.

Aquelas palavras entraram nele como luz por uma janela fechada há anos.
Naquela hora, Sami chorou — não lágrimas de desespero, mas lágrimas de quem finalmente se encontra.

Desceu a montanha outro homem. Cumpriu o que Abuna Elias mandara: restituiu, pediu perdão, desfez tramas, abriu mão de lucros fáceis, rompeu alianças tortas. Perdeu muito dinheiro — ganhou paz. E no silêncio do coração, percebeu que, pela primeira vez, dormia sem que sua consciência gritasse.

Meses depois, voltou à montanha. Encontrou Abuna Elias rezando diante do ícone.

Abuna… voltei para agradecer. Minha vida começou de novo.
O eremita abriu os olhos, serenos como antes.

Não agradeças a mim, filho. Eu apenas te apontei o caminho. Foste tu quem caminhou. E Deus, como sempre, fez o resto.

Sami sorriu como quem descobre que viver também é uma forma de oração.

E ali, naquela gruta perdida entre céu e pedra, dois homens disseram pouco — porque, quando a graça age, até o silêncio se ajoelha.

O verdadeiro exorcismo do nosso tempo: destruir a mentalidade contraceptiva

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