O Jejum da Natividade: uma tradição esquecida do Advento cristão
Historicamente, o tempo que antecede o Natal nunca foi apenas expectativa festiva, mas um período marcado pela sobriedade, pela vigilância espiritual e pelo jejum. Muito antes de o Advento assumir o caráter predominantemente devocional que hoje conhecemos no Ocidente, ele era vivido como verdadeira preparação penitencial para a grande solenidade da Encarnação.
Nas Igrejas Católicas Orientais e entre a maioria dos cristãos ortodoxos, permanece viva a observância do Jejum da Natividade, que se estende de 15 de novembro até a véspera do Natal, totalizando quarenta dias. Trata-se de uma disciplina inspirada no próprio Cristo, que jejuou quarenta dias no deserto, e na antiga sabedoria da Igreja: jejua-se antes de festejar.
Durante esse tempo, os fiéis são tradicionalmente convidados a abster-se de carne e seus derivados, ovos, laticínios, e, conforme os dias prescritos, também de peixe, vinho e azeite. A disciplina concreta pode variar segundo a tradição litúrgica de cada Igreja e segundo a orientação pastoral, mas o espírito permanece o mesmo: simplicidade, moderação e recolhimento.
O jejum, contudo, nunca foi entendido como mero rigor alimentar ou prática exterior. Ele é inseparável da oração mais intensa, da sobriedade de vida, do domínio das paixões e da caridade concreta. A Igreja sempre ensinou que tais regras não devem ser vividas com legalismo, nem com orgulho, mas segundo as forças de cada fiel, sob discernimento e acompanhamento espiritual.
Por isso, mais do que uma obrigação, o Jejum da Natividade é um convite: um chamado a silenciar os excessos, ordenar os desejos e preparar o coração para acolher dignamente o Mistério do Deus que se faz carne. Redescobrir essa tradição não é um retorno arqueológico ao passado, mas um gesto de fidelidade à pedagogia espiritual da Igreja, que sempre soube que a verdadeira festa nasce da purificação interior.
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