sexta-feira, 24 de outubro de 2025

O Feminismo Como Vingança: Ideologia Travestida de Liberdade


O Feminismo Como Vingança: Ideologia Travestida de Liberdade

Há movimentos que nascem da dor e se transformam em virtude; e há os que nascem da ferida e se alimentam dela até o fim. O feminismo moderno pertence ao segundo tipo — não é um clamor por justiça, mas um ato de revanche histórico, disfarçado sob o véu cintilante da “liberdade”.

Ninguém duvida que uma mulher, ao longo dos séculos, tenha sido alvo de injustiças, abusos e silenciamentos. Seria tolice negar isso. Mas o erro fatal do feminismo não foi denunciar o desequilíbrio — foi inverter o eixo, trocando a opressão pela rivalidade. Em vez de buscar a harmonia entre o masculino e o feminino, instaurou-se uma guerra.

A mulher, que outrara era o coração da civilização — a guardiã da vida, a educadora da alma, o rosto da ternura —, passou a ser treinada para desconfiar do homem, desprezar o lar e medir seu valor pela capacidade de imitá-lo. O símbolo da maternidade, que sempre foi coroa e missão, converteu-se em fardo e atraso. A ideologia feminista sequestrou a vocação natural da mulher e a vendeu de volta com outro nome: “autonomia”.

A promessa era simples e sedutora: “Seja livre, faça o que quiser, pertença apenas a si mesma.” Mas, ao perseguir essa miragem, a mulher moderna descobriu que não conquistou a liberdade — apenas trocou de senhor.

Antes, o dever moral e o vínculo familiar lhe davam um sentido. Agora, o mercado e o prazer imediato a governar.

Antes, seu corpo era templo. Agora, é produto.

Antes, sua dignidade vinha de gerar e educar a vida. Hoje, aqueles que serão “empoderados” se puderem destruir o que carrega no ventre.

O feminismo prometeu libertação, mas entregou solidão. Prometeu igualdade, mas semeou rivalidade. Prometeu voz, mas exige obediência cega ao seu próprio dogma ideológico.

A verdade é que o feminismo não busca apenas elevar a mulher — busca rebaixar o homem. É uma vingança histórica, um acordo de contas contra a autoridade, contra o pai, contra Deus.

Não é coincidência que o feminismo mais radical tenha como inimigo principal a figura paterna — símbolo da lei, da ordem e do limite. Ao rejeitar o homem, rejeita-se também a própria estrutura do ser. O resultado é uma sociedade órfã, em que nem o homem sabe ser homem, nem a mulher sabe ser mulher.

Essa ideologia, nascida da revolta, mascara-se com o discurso de igualdade, mas seu coração pulsa ressentimento. A mulher que adere ao feminismo não quer apenas direitos — quer revanche. Quer apagar a memória do patriarcado, mas acaba apagando também a nobreza da feminilidade.

A liberdade da mulher não se encontra no espelho da ideologia, mas na redescoberta da sua essência. A mulher é livre quando é fiel àquilo que Deus inscreveu em sua alma: o dom de gerar, de acolher, de amar.

Não há vergonha de ser esposa, mãe, consagrada, ou mesmo profissional — desde que a vocação seja vívida com alma e não como bandeira. A mulher plena não precisa competir com o homem; basta-lhe ser inteiro em sua própria vocação.

A verdadeira revolução feminina é silenciosa e luminosa: nascem aquelas que compreendem que o amor é mais forte que o poder, e que servir não é ser submissa, mas reinar em profundidade.

O feminismo moderno é uma vingança travestida de libertação, um engano cuidadosamente embalado para parecer obra. É a serpente de outrara sussurrando outra vez: “Sereis como deuses.”

Mas a mulher verdadeiramente livre é aquela que, de joelhos, se ergue mais alta que qualquer império ideológico.

Ela sabe que não precisa provar nada — porque já foi criada à imagem de Deus.

domingo, 19 de outubro de 2025

A Alma Educada: Como a Filosofia Forma o Homem Integral

 


A Alma Educada: Como a Filosofia Forma o Homem Integral

Há uma diferença abissal entre o homem instruído e o homem educado. O primeiro acumula dados, repete teorias, enche-se de títulos. O segundo — o homem verdadeiramente educado — é aquele cuja alma foi moldada pela busca do bem, do belo e do verdadeiro. A filosofia, desde seus primórdios, sempre teve essa missão: não formar especialistas, mas almas ordenadas, capazes de pensar, discernir e amar o que é digno de ser amado.

A palavra “filosofia” significa, literalmente, amor à sabedoria. E o amor, como se sabe, é força que transforma. Não basta saber — é preciso deixar-se plasmar pelo que se sabe. O verdadeiro filósofo não é o que lê muito, mas o que vive o que compreende. Por isso, Platão afirmava que o saber filosófico é purificação da alma, libertação das sombras da ignorância e do imediatismo.

Em tempos antigos, educar era sinônimo de conduzir a alma à sua forma mais elevada. Aristóteles dizia que o fim da educação é a formação do caráter; e os estóicos, que o sábio é aquele que governa suas paixões, vive segundo a razão e é amigo da virtude. A filosofia era um modo de vida — não uma profissão, mas uma vocação.

Hoje, porém, o que chamamos “educação” se tornou mera instrução técnica. Produzimos especialistas que sabem operar máquinas, mas não sabem governar a si mesmos. Criamos mentes ágeis, mas corações vazios. Falta-lhes filosofia — isto é, falta-lhes alma.

A filosofia educa o homem integral porque toca todas as dimensões do ser. Ensina a pensar com clareza, a julgar com justiça, a agir com prudência e a contemplar com reverência. É uma ginástica da razão e uma ascese do espírito. Ela nos recorda que o homem não é apenas um corpo que trabalha, mas uma alma que deseja sentido.

Educar a alma é, portanto, uma tarefa espiritual. É orientar o olhar interior para o alto, como quem reergue uma chama vacilante. É aprender a discernir entre o que é útil e o que é bom, entre o que é agradável e o que é verdadeiro. É, enfim, restaurar a harmonia entre pensamento, palavra e ação.

O homem integral é aquele que pensa com sabedoria, fala com verdade e age com bondade. E tal harmonia não nasce do acaso, mas da disciplina filosófica — da escuta dos grandes mestres e da meditação silenciosa sobre a própria vida.

Enquanto a técnica ensina o homem a fazer, a filosofia o ensina a ser. E entre o fazer e o ser há todo o abismo que separa a máquina da alma.

Talvez este seja o maior desafio do nosso tempo: reeducar a alma humana. Tornar novamente o pensamento uma oração e a sabedoria um caminho. Pois, como lembrava Sócrates, “uma vida sem exame não merece ser vivida”.

E uma educação sem filosofia — acrescentaríamos — não merece ser chamada de formação, mas apenas de adestramento.

Em suma: educar a alma é devolver ao homem sua inteireza. É curá-lo da fragmentação moderna, reconciliando razão e fé, corpo e espírito, tempo e eternidade. A filosofia, quando vivida, é esse remédio suave e severo: cura o olhar, alinha o coração e faz do homem um ser capaz de verdade — e portanto, de plenitude.


quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O que é o tudo que deixamos?

 


O que é o tudo que deixamos?

Na vida religiosa, somos constantemente cercados por pessoas curiosas — alguns motivos por admiração, outros por incompreensão. Nem sempre são almas de fé sólidas; Muitos ainda caminham na superfície das coisas, sem tocar o fundo onde Deus habita. Aproximam-se de nós com perguntas, às vezes simples, às vezes desafiadoras. Tentamos sempre, com caridade e serenidade, oferecer-lhes respostas que não sejam apenas palavras, mas testemunho.

E entre todas as perguntas, há uma que ecoa com mais frequência do que qualquer outra:

“O que faz alguém deixar tudo?”

Essa pergunta é o espelho da reflexão do nosso tempo. Porque o homem moderno já não entende o “deixar”, nem tampouco o “tudo”. 

Ele entende de acumular, possuir, controlar, dominar — mas não de oferecer.
E talvez por isso o testemunho de quem renúncia ao amor escandaliza tanto: porque recorda ao mundo o que ele esqueceu — que só o amor dá sentido à entrega.

Mas afinal, o que é isso tudo de que tanto conversamos?

Será o dinheiro ?
Não nos falta o necessário, e aprender que a verdadeira riqueza é não precisar de nada além de Deus.
Será o conforto ?
Vivemos bem, e com a paz que vem da conformidade.
Será que o poder ?
Servimos Àquele que é o Senhor do universo — e em Seu serviço encontra-se realeza.
Será o prazer carnal ?
Os que só conhecem o prazer da carne nunca provaram o júbilo do espírito.

Então o que é esse “tudo” que tanto espanta, esse tudo que deixamos para trás?
Talvez não seja “coisa” alguma, mas um modo de existir .
O “tudo” é o ego que quer reinar.
É o “eu” que exige, que se impõe, que quer dominar até Deus.
É o desejo de ser o centro — a tentação mais antiga da humanidade: “sereis como deuses” (Gn 3,5).

“Deus não tira nada — Ele apenas esvazia as mãos para que possa receber o Infinito.”
-Santa Teresa de Jesus

Deixar tudo, portanto, não é empobrecer, mas abrir espaço .
Não é negar a vida, mas libertá-la da posse.
O “tudo” que deixamos é o direito de mandar em nós mesmos , e em troca recebemos o dom de sermos servos de Alguém maior.

É paradoxal, mas é real: quem se entrega totalmente a Deus, não se anula — se encontra .

“Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por causa de Mim,  encontre-la-á.” (Mt 16,25)

O mundo pensa que liberdade é fazer o que se quer.
Mas isso é escravidão disfarçada — porque quem vive segundo os caprichos da vontade, logo se torna servo de suas paixões.
A verdadeira liberdade é fazer o que se deve , e amar o dever até que ele se torne alegria.

“Servir a Deus é reinar.”

A civilização moderna é marcada por um culto ao eu . Nietzsche proclamou a morte de Deus , mas o que ele realmente matou foi o homem que acreditou em algo maior que si mesmo. Desde então, o altar ficou vazio — e o ego sentou-se sobre ele. O homem moderno adora o próprio reflexo, e chama isso de autonomia.

“O homem que se faz seu próprio deus acaba satisfeito ao pior dos tiranos.”
-Santo Agostinho

Quando o ego é o ídolo, tudo se fragmenta.
A vida se torna uma sequência de desejos insaciáveis, e o coração se perde no ruído das próprias vontades. Quem vive para o “eu” perde o sentido do “nós”, e consequentemente, o sentido de Deus.

E aqui está o ponto: o religioso, ao “deixar tudo”, não foge do mundo — liberta-se do cativeiro de si mesmo. Enquanto o homem comum precisa de mil distrações para sustentar o vazio, o consagrado aprende a habitar no silêncio, onde tudo o que é humano se encontra com o divino.

“No fim, o coração humano tem apenas um desejo: ser possuído pelo Amor que o criou.”
-São João da Cruz

Deixar tudo é um ato de coragem. Mas é também um ato de fidelidade — fidelidade a um chamado que não suporta meias medidas, que exige o todo e devolve o Todo. A vocação é uma chama que consome, mas não queima; é como a sarça ardente que Moisés viu: o fogo é de Deus, e a planta continua viva.

“O amor, quando é verdadeiro, não se mede — consome.”
-Santa Catarina de Sena

Por isso, quando alguém pergunta:
— “Como vocês tiveram coragem de deixar tudo?”
Eu sorrio e respondo:
"Não deixamos nada. Apenas devolvemos o que nunca nos pertenceu."

Porque tudo o que o mundo chama de “tudo” — sucesso, prazeres, controle, opinião — é apenas pó.
E como lembra o Eclesiastes , vaidade das vaidades, tudo é vaidade (Ecl 1,2).
O que deixamos, afinal, é o efêmero. E o que ganhamos é o Eterno.

O mundo nos chama de tolos por termos deixou tudo; mas é o mundo que se perde tentando possuir o que jamais poderá segurar. Deixar tudo é, no fundo, abrir as mãos para receber o infinito.
E só compreende isso quem já ouviu Deus chamar pelo nome, no silêncio do coração.

“Deus basta.”
-Santa Teresa d'Ávila

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

 


"Ontem à noite, uma mulher veio a esta igreja trazendo seu filho. Ela usava calças e não trazia o lenço na cabeça. Alguém a repreendeu. Ela saiu... e nunca mais voltou.

Não sei quem fez isso. Mas ordeno a essa pessoa que, por toda a sua vida, reze pela salvação dessa mulher e de seu filho — porque foi por sua causa que eles se afastaram e não retornarão à igreja."

Dito isso, ele inclinou o rosto, virou-se em silêncio e entrou no altar.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Descobrir a Sua Praia: Um Encontro com Nietzsche


Descobrir a Sua Praia: Um Encontro com Nietzsche

Há uma passagem em Assim falou Zaratustra, de Nietzsche, que ecoa como conselho e advertência ao mesmo tempo: leve o tempo que for para descobrir aquilo que almeja. Depois de descoberto, não recue ante nenhum pretexto.

Traduzindo isso para o nosso cotidiano, é como se Nietzsche nos dissesse: “Demore o tempo que precisar para encontrar qual é a sua praia. Mas, quando encontrá-la, não volte atrás nem para tomar impulso.”

Vivemos em uma era da pressa. O imediatismo virou uma espécie de vício social. Queremos respostas rápidas, resultados instantâneos, sucesso sem demora. Mas a verdade é que as coisas mais autênticas da vida não se encontram em atalhos: elas pedem paciência, maturação, tempo de espera e até um certo silêncio. Descobrir o que se deseja de fato — a vocação, o caminho, a verdade interior — é uma jornada lenta, muitas vezes dolorosa.

Nietzsche sabia disso. Seu chamado não era para a pressa, mas para a fidelidade. O perigo não está em demorar para descobrir, mas em abandonar aquilo que já se revelou como verdadeiro. É aqui que entra a segunda parte de sua advertência: não recue. Não invente desculpas, não se esconda atrás de pretextos, não permita que o medo ou as pressões externas desfigurem o seu propósito.

“Encontrar a sua praia” é uma expressão vulgar, mas que traduz de forma quase perfeita a força do pensamento nietzschiano: quando você se depara com aquilo que dá sentido à sua vida, não desperdice esse encontro. Seguir o próprio caminho exige coragem — e coragem, no fim das contas, é fidelidade ao que já foi descoberto.

Talvez Nietzsche, com sua linguagem incendiária, quisesse nos sacudir para longe da mediocridade, onde muitos passam a vida inteira fugindo de si mesmos. O filósofo aponta para uma verdade incômoda: não é o mundo que mais nos engana, mas nós mesmos, quando recuamos diante daquilo que nos chama.

Portanto, que a lição seja clara: demore o tempo que precisar. Reze, estude, viaje, caia e levante. Mas, quando encontrar a sua praia, não recue. Porque viver de verdade é permanecer fiel ao que se descobriu como autêntico — e não trocar isso por qualquer conveniência passageira.


domingo, 21 de setembro de 2025

Entre Aristóteles e TikTok: Por que a Virtude Foi Esquecida?

 


Entre Aristóteles e TikTok: Por que a Virtude Foi Esquecida?

Há uma pergunta que paira sobre a nossa época como uma sombra silenciosa: por que a virtude foi esquecida?

Em tempos passados, quando Aristóteles ensinava no Liceu, quando os Padres da Igreja meditavam à luz da Escritura, e quando São Tomás de Aquino tecia com precisão as linhas da filosofia e da teologia, falar de virtude era falar da própria vida humana em sua essência. Hoje, porém, o termo soa estranho, quase arcaico, e foi substituído por palavras cintilantes, mas vazias: “sucesso”, “likes”, “autoexpressão”.

O filósofo de Estagira ensinou que a felicidade ( eudaimonia ) não é um acaso, nem tampouco uma emoção passageira, mas o fruto de uma vida orientada pela excelência moral. “A virtude é adquirida pelo hábito” , dizia ele. E esse hábito é uma escola de paciência, esforço e disciplina interior. Ser feliz, para Aristóteles, não era ceder ao impulso, mas formar o caráter; Não era viver para o instante, mas para o bem maior.

Agora, em que abismo caímos? O que outrora era uma ascensão pela escada da virtude tornou-se, na era digital, uma corrida frenética pelo aplauso instantâneo. A cultura do TikTok, dos vídeos de segundos, não nos ensina a pensar, mas a reagir; Não nos formamos em hábitos sólidos, mas em reflexos imediatos. O homem, que deveria ser escultor de si mesmo, tornou-se mero produto de algoritmos.

A modernidade, ao rejeitar a tradição, também rejeitou a própria linguagem da virtude. Termos como prudência, justiça, fortaleza, temperança — colunas da vida ética para Aristóteles e São Tomás — foram substituídos por expressões como “ser autêntico”, “seguir o coração”, “buscar a própria verdade”. Mas, quando cada um cria sua verdade, o que resta senão uma sociedade fragmentada, incapaz de convergir para um bem comum?

Santo Agostinho já percebeua este perigo: "A liberdade sem a verdade é apenas outro nome para a escravidão" . Ao perdermos o referencial do Bem objetivo, transformamos a liberdade em capricho, e o capricho em tirania.

Se Aristóteles via na virtude o caminho para a verdadeira felicidade, a cultura contemporânea trouxe a felicidade ao prazer imediato. Mas prazer não é fim; é consequência. O prazer pode acompanhar a virtude, mas não a substituir. A geração moldada pelo consumo instantâneo e pelas redes sociais foi treinada para confundir o brilho com a luz, o ruído com a música, a emoção com a alegria.

Como anuncia Josef Pieper, filósofo do século XX: "A cultura do ócio não é a cultura do tédio, mas a condição da contemplação. Sem contemplação, não há cultura" . Agora, numa era em que cada segundo precisa ser preenchido por estímulos, a contemplação é impossível, e a virtude, invisível.

Aristóteles não conhecia os homens perfeitos, mas os homens falíveis. Ele sabia que a virtude exige treino — assim como o corpo precisa de exercício, a alma precisa de disciplina. A pedagogia da virtude não é espetáculo, mas repetição; não é espetáculo, mas silêncio; não é novidade, mas constância.

Na cultura do TikTok, nada é constante: tudo deve mudar a cada quinze segundos. E, assim, como aprender a virtude se nem sequer aprender a permanecer? Como alcançar a sabedoria, se não suportamos o tédio fecundo que antecede a compreensão?

Contra esse cenário, a tradição filosófica e cristã permanece como farol. Santo Tomás de Aquino, ao beber em Aristóteles e elevá-lo à luz da fé, ensinou que a virtude humana só se cumpre plenamente na caridade, que é participação no amor divino. A virtude não é mero exercício ético, mas caminho de santidade.

Redescobrir a virtude hoje é mais do que recuperar uma categoria filosófica: é reencontrar a possibilidade da própria humanidade. É afirmar que o homem não é um animal de cliques, mas um ser racional, espiritual, chamado à eternidade.

A pergunta não é se o mundo atual pode redescobrir a virtude, mas se houver homens dispostos a observar contra a corrente do imediatismo. Virtude não dá audiência. Prudência não viraliza. Temperança não rende curtidas. Mas é justamente nelas que está a salvação da alma e da civilização.

Entre Aristóteles e o TikTok, cada homem precisa escolher onde firmará sua morada: na areia movida do efêmero, ou na rocha sólida do eterno. Pois, como já dizia o próprio Aristóteles, "Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito" .

Se a virtude foi esquecida, cabe a nós recordá-la — com a vida, com o exemplo, com a fidelidade. Pois só assim, no meio do ruído e do fluxo incessante, poderemos ouvir novamente a voz da sabedoria que nunca envelhece.

Referências

  • Aristóteles . Ética a Nicômaco . Trad. Antonio Pinto de Carvalho. São Paulo: Édipro, 2017.

  • Santo Agostinho . Confissões . Trad. Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus, 2004.

  • São Tomás de Aquino . Suma Teológica . I-II. Trad. Alexandre Correa. São Paulo: Loyola, 2001.

  • Chesterton, G. K. Ortodoxia . Trad. Almiro Piseta. São Paulo: Mundo Cristão, 2014.

  • Pieper, Josef . Ócio e Culto: A Base da Cultura . São Paulo: É Realizações, 2010.

Contra o Vento e a Maré: A Alma que Resiste à Revolução


Contra o Vento e a Maré: A Alma que Resiste à Revolução

Vivemos sob o signo de um mundo que se reinventa a cada instante. A palavra “revolução” é exaltada como se fosse sinônimo de progresso, como se todo passado fosse sombra e todo futuro fosse luz. Porém, como anuncia Santo Agostinho, “a verdade não é filha do tempo, mas da eternidade” . Se a verdade não muda, como pode ser progresso arrancar o homem das raízes que lhe dão a vida?

A modernidade, ao venerar o novo pelo simples fato de ser novo, esquece que o homem não nasceu ontem. Somos herdeiros de uma história, de uma memória coletiva, de uma tradição que nos liga ao que há de mais profundo: o próprio Deus. Como ensinou Santo Irineu de Lyon, “a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem consiste na visão de Deus” . O homem só é homem completo quando participa do eterno — e não quando se dissolve nas ondas do instante.

O espírito revolucionário promete liberdade, mas entrega escravidão. Liberdade não é ausência de raízes, mas fidelidade àquilo que nos dá consistência. Uma árvore que renega suas raízes não se torna mais livre: apenas morre. GK Chesterton já lembrava que “a tradição é a democracia dos mortos” , ou seja, dar voz não apenas à moda de hoje, mas também à sabedoria dos que nos antecederam.

Resistir, portanto, não é nostalgia nem teimosia. É ato de coragem. O professor Plínio Corrêa de Oliveira, ao diagnosticar a Revolução como um processo multissecular de dissolução moral, religiosa e social, anuncia que a verdadeira contra-revolução não se faz com violência, mas com fidelidade — uma firmeza que nasce da alma que se ancora na Verdade eterna.

Contra o vento e a maré, permanece a alma que resiste. Não se trata de recusa o mundo, mas de recusa o mundo sem Deus. Não se trata de negar o futuro, mas de preparar um futuro que não seja um deserto de sentido. Como um farol em meio à tempestade, a alma fiel pode parecer pequena, mas ilumina os que ainda buscam o caminho.

A Revolução é barulho; a resistência é silêncio fecundo. A Revolução é maré que arrasta; a fidelidade é rocha que sustenta. A Revolução é chama que consome; a Tradição é luz que aquece e orienta.

No fim, não vencerá o vento que uiva nem a maré que arrasta, mas Aquele que acalmou as águas com uma só palavra: “Silêncio! Cala-te!” (Mc 4,39).

E é n'Ele que a alma encontra forças para resistir, mesmo sozinho, mesmo frágil, mesmo contra tudo.

O Feminismo Como Vingança: Ideologia Travestida de Liberdade

O Feminismo Como Vingança: Ideologia Travestida de Liberdade Há movimentos que nascem da dor e se transformam em virtude; e há os que nasce...