Em um canto discreto de uma igreja antiga, paredes gastas pelo tempo, o reboco rachado testemunha mais histórias do que qualquer livro. A cena é simples, mas carregada de significado eterno: um homem ajoelhado diante de um sacerdote, em confissão.
Do lado de fora, o mundo corre frenético, impaciente, barulhento. Aqui dentro, reina um silêncio denso, quase palpável, como o intervalo entre o trovão e a chuva. Não há tecnologia, não há microfones, não há hashtags. Apenas duas almas: uma que carrega o peso das próprias misérias, e outra que, com estola roxa e mãos calejadas por muitas absolvições, oferece o ouvido, o conselho e, por fim, as palavras de redenção.
Quantos anos de culpa traz aquele penitente? Quantas noites mal dormidas? Quantas promessas de mudança adiadas? Agora, tudo se resume a uma sugestão, um fio de voz, dito talvez entre lágrimas ou com um sorriso envergonhado. O confessionário — ainda que improvisado — é um pequeno tribunal da misericórdia, onde a sentença é sempre a mesma: "Ego te absolvo...".
A imagem é um lembrete para o homem moderno, tão acostumado a racionalizar os próprios erros e terceirizar a culpa. No confessionário, não há espaço para desculpas ensaiadas. Ali, cada palavra tem o peso de um tijolo no muro que separa a alma de Deus. E cada absolvição é um pedaço desse muro que se desaba, abrindo novamente caminho para a graça.
Os antigos sabiam disso. Por isso ajoelhavam-se com humildade, como quem sabe que está diante de um mistério maior que a própria vida. Hoje, muitos fogem da confissão, inventando teologias caseiras para justificar a ausência. Mas a verdade é dura como pedra de altar: só há um caminho para a reconciliação sacramental, e passa por esse ato concreto de humilhação e confiança.
Talvez o que mais nos incomode nessa imagem não seja o constrangimento de contar os pecados, mas uma lembrança de que, apesar de todos os nossos discursos progressistas, ainda somos feitos da mesma massa frágil dos nossos avós. Pecadores por natureza. Dependentes da misericórdia.
Que esta cena nos provoque, nos incomode e, acima de tudo, nos mova. Que o próximo banco de madeira seja o nosso. Que o próximo silêncio denso seja o que antecede a nossa própria absolvição.
Porque, no fim, a maior liberdade não está em fugir de Deus… mas em voltar para Ele.
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