A Vida em Deus: Um Chamado para os de Boa Vontade
A vida cristã não é uma redoma dourada reservada a poucos eleitos, como os sacerdotes ou os religiosos enclausurados nos mosteiros. Não. A vida em Deus é um convite universal, um chamado silencioso e constante que ecoa no coração de homens e mulheres de boa vontade, espalhados pelas esquinas da vida comum. Gente que trabalha, que erra, que ama, que chora… Gente que sonha com o céu, mas que ainda pisa com os dois pés na terra dura e cheia de poeira.
Somos poucos? Talvez, numericamente, sim. Mas o que nos une é de uma força que o mundo jamais entenderá. É maior que nossas dúvidas, maior que nossas quedas, maior que nossos medos mais íntimos. Somos gente que tropeça, que sente preguiça, que às vezes desanima, que muitas vezes luta contra o próprio pecado com a coragem de quem sabe que a batalha só termina na eternidade.
Quando decidimos pautar nossa vida em Deus, tudo muda. Absolutamente tudo. Não significa que passaremos a viver num estado de êxtase místico, longe das dores do mundo. Não. Continuaremos enterrando os nossos mortos, pagando contas atrasadas, enfrentando filas de banco, acordando cedo com vontade de ficar mais dez minutos na cama. Mas até nisso… há um sabor novo. Uma graça escondida.
Veja um exemplo simples: a preguiça matinal. O mundo diria: “Fica mais um pouco… você merece!”. Mas o cristão, mesmo com os olhos ainda semi-cerrados de sono, escuta outra voz: “Deus te chama… o dom da vida te chama… levanta!”. Não porque somos super-heróis da fé, mas porque entendemos que o simples ato de acordar é, por si só, um milagre.
O dia de um cristão não é medido pelo número de e-mails respondidos, pelos boletos pagos, nem pelo lucro obtido. A métrica do Céu é outra. Perguntamo-nos ao final do dia: "Quanto rezei hoje? Rezei bem? Me recolhi na presença de Deus ou apenas li palavras soltas, como quem lê um jornal velho?". Quem pode, quem tem o privilégio, santifica as horas com os salmos, com o breviário, com a Missa. Quem não pode, faz de cada gesto, de cada passo, uma pequena oração viva.
A vida em Deus não é uma vida de perfeitos, mas é a vida de quem decidiu caminhar com o Perfeito. De quem entendeu que o sofrimento tem um sentido, que a alegria é uma antecipação do Paraíso e que até a perda, quando oferecida, se transforma em oração.
No centro de tudo está Ele: Cristo Jesus, que se faz pequeno na Eucaristia para caber na nossa pequenez. Ali, naquele pedaço de pão consagrado, está o Mistério Pascal inteiro, condensado e vivo, esperando o nosso “sim” cotidiano. Um "sim" que não se grita, mas que se sussurra entre um despertar difícil e uma Ave-Maria apressada, entre um olhar de gratidão e uma lágrima de arrependimento.
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