"Soneto da Alma Inquieta"
Fui jovem de ideal inabalado,
caminho firme, olhar além do chão.
Seguia a voz do céu, sacrificado,
jurando à fé eterna devoção.
II
Sofri, sorri, lutei contra o vazio,
o peito em febre, a mente em confusão.
E em mim bradava um grito forte e frio,
mas só ouvia o eco da ilusão.
III
Livre, senti-me preso em mim, sem rumo,
e preso, ansiava a liberdade vã.
O mundo, para mim, tornou-se um sumo
de angústia, dor, e paz que se profana.
IV
Tentei fugir, do pranto fiz abrigo,
deitei-me à morte, mas sem o ceder.
Faltou-me a força? Não. Faltou-me o inimigo.
Pois quem procura o fim, quer renascer.
V
Chorei em sono, e o sono me embriaga.
Comi da solidão, bebê do medo.
Mas dentro, a esperança ainda se alaga,
e em meio à noite, eu via algum segredo.
VI
E hoje, sou criança renascida,
num corpo que cansou de se calar.
Brincando com as sobras da ferida,
aprendo, enfim, o verbo: recomeçar.
— Matheus Lino Pereira
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