Neste domingo, em meio ao silêncio sagrado que precede a liturgia, em meio ao descanso do mundo e ao eco da eternidade, somos chamados a voltar nosso coração para um dos exercícios mais esquecidos e, ao mesmo tempo, mais fundamentais da vida cristã: aprender a depender somente de Deus .
Vivemos numa época em que a dependência é vista como fraqueza. O homem moderno foi educado para ser autossuficiente, para correr atrás da estabilidade financeira, emocional, relacional. Tudo gira em torno da palavra “segurança”. Segurança no emprego. Segurança no casamento. Segurança nos investimentos. Segurança na saúde. E então, sem perceber, começamos a construir nossa casa sobre a areia das situações — e nos tornamos escravos de tudo aquilo de que dependemos.
Criamos, aos poucos, uma teia de dependências humanas que, embora legítimas em sua ordem natural, tornam-se laços que sufocam nossa alma quando ocupam o lugar de Deus. O salário se torna nosso deus. O parceiro, nosso Salvador. Os filhos, nosso sentido. A carreira, nosso altar. E, assim, multiplicam-se os nossos medos: medo de perder o emprego, medo da traição, medo da solidão, medo do futuro, medo da morte.
Mas, e Deus? Onde entra Deus nisso tudo? O único que nunca nos abandona , que não pode falhar , que não muda , que é fiel mesmo quando nós somos infiéis (cf. 2Tm 2,13), é exatamente Aquele em quem menos confiamos.
A verdade é simples e profunda: somos chamados a depender de Deus. Mas isso não é um sentimento vago, nem uma frase bonita de efeito espiritual. É um caminho. Um exercício. Um combate. É a substituição lenta e consciente das falsas seguranças pela rocha inabalável que é o Senhor.
“Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento” (Provérbios 3,5).
A dependência de Deus se aprende na oração. Quando ajoelhamos sem saber o que pedir, mas ainda assim ficamos diante do Pai. Se aprende no sofrimento. Quando tudo nos é tirado e descoberto, com lágrimas nos olhos, que o essencial permanece. Se aprende na obediência. Quando fazemos a vontade divina mesmo sem compreender plenamente os caminhos. Aprende na Eucaristia. Quando nos alimentamos do que não vemos, mas cremos.
Depender de Deus é viver com os olhos fixos n'Ele, como um servo que aguarda os sinais do seu Senhor (cf. Sl 122,2). É viver sabendo que tudo pode ruir ao nosso redor — mas se Ele estiver conosco, não faltará nada. Como disse Santa Tereza :
"Nada te perturba, nada te espante. Tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem Deus, nada falta. Só Deus basta."
Neste domingo, o convite é claro: faça um exame da sua alma. De quem você depende? Onde você colocou seu coração? Onde está sua confiança?
Talvez você diga: “Mas é difícil confiar em Deus quando não sei o que Ele vai fazer.” E Deus responde: "É exatamente por isso que quero que você confie. Porque eu sei o que estou fazendo."
Nosso Pai não quer que vivamos com medo. Ele quer que vivamos com fé. Não uma fé cega, mas uma fé firme, como a da criança que estende a mão e se deixa guiar.
Confiar em Deus não é abandonar responsabilidades, nem cruzar os braços diante dos desafios. Confiar em Deus é lutar com a serenidade de quem sabe que não está sozinho, que a vitória não depende apenas de suas forças, mas de Deus que caminha à frente.
Por isso, neste domingo, descansemos no Senhor. Vamos começar esta nova semana com o firme propósito de deslocar o eixo de nossa confiança. Que Deus seja o nosso sustento, nosso refúgio, nossa esperança. Que Ele seja tudo, em todos, em cada detalhe da nossa vida.
Com alegria no coração e paz na alma, desejo a você e a todos que leem esta reflexão um santo e abençoado domingo.
Que você sinta a presença do Senhor caminhando ao seu lado, sustentando suas esperanças, acolhendo suas dores e guiando seus passos.
E que a graça de aprender a depender somente d'Ele acompanhe você não apenas hoje, mas por toda a sua vida.
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