Para Platão, existem dois tipos de conhecimento: doxa (opinião) e aletheia (verdade). A doxa é assustadora, muda com o vento das emoções e da conveniência. A verdade, por outro lado, é o que é — não depende de “likes”, nem de seguidores.
O Instagram é um templo moderno da doxa. As opiniões pulsam em tempo real, moldadas pela estética, pela narrativa do momento e pelo algoritmo. Há espaço para a verdade? Sim, mas ela precisa competir com a sedução do sensacionalismo, da aparência, da performance.
Platão propõe que o verdadeiro governante deveria ser filósofo, aquele que ama a sabedoria. Mas hoje, quem reina são os influenciadores. Nada contra eles — muitos fazem um trabalho excelente. Mas a lógica é outra: não se busca o que é eterno, mas o que engaja.
Se Sócrates fosse um usuário do Instagram, talvez estivesse no campo dos comentários, questionando com ironia: “Você tem certeza disso?” ou “O que você quer dizer com 'minha verdade'?”. Seria bloqueado? Talvez. Mas também poderia inspirar.
Apesar da crítica, é possível um diálogo entre Platão e o Instagram . A filosofia não precisa fugir da tecnologia — ela pode se encarnar nela. A pergunta é: quem está usando quem?
Se usarmos o Instagram apenas para alimentar a vaidade, permanecemos na caverna. Mas se o usamos como meio para comunicar o que é verdadeiro, belo e bom, então podemos ascender com os outros à luz. O segredo está na intenção e na profundidade .
Platão acreditava que a verdade é universal e imutável. Mas vivemos na era da “verdade pessoal”, do “eu sinto, logo é verdade”. Isso não precisa ser um muro intransponível. O diálogo é possível quando abrimos espaço para ouvir, pensar e, acima de tudo, duvidar da própria opinião com humildade .
Talvez a missão do filósofo contemporâneo seja usar as ferramentas atuais para resgatar o amor pela sabedoria — mesmo que isso signifique postar menos selfies e mais ideias.
O Platão e o Instagram habitam mundos diferentes, mas podem ser encontrados. A filosofia não é um luxo antigo: é uma urgência atual. E talvez, ao resgatar o valor da verdade num mar de opiniões, sejamos como aquele prisioneiro que ousou olhar para a luz — e depois voltou para convidar outros.
Você aceita o convite?
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