sexta-feira, 23 de maio de 2025

O Despertar Filosófico: Como Começa a Jornada de um Pensador.


O Despertar Filosófico: Como Começa a Jornada de um Pensador

"A filosofia começa no assombro." —Platão

Toda grande jornada começa com um passo silencioso, muitas vezes imperceptível aos olhos de quem está de fora. O despertar filosófico não é diferente. Não se trata de um momento grandioso de iluminação mística, mas de um movimento interior, uma inquietação sutil que irrompe no meio do cotidiano. Uma dúvida se infiltra entre as certezas habituais e nos arranca da superfície da vida. Assim começa a jornada de um pensador.

A maioria das pessoas vive como quem anda por trilhos: segue-se o curso da vida conforme as convenções sociais, as tradições familiares ou os impulsos do momento. Mas, em algum ponto, para alguns, isso não é suficiente. Um jovem, talvez diante de um sofrimento, de uma injustiça ou simplesmente de uma noite silenciosa, pergunta: "Por quê?"

Essa pergunta, aparentemente simples, carrega em si uma revolução. É o momento em que o mundo deixa de ser apenas vívido e começa a ser pensado. Nesse instante nasceu o filósofo. Ele ainda não sabe que o é, mas já foi tocado pelo espírito da sabedoria — philo-sophia .

O que diferencia o filósofo do curioso é a insistência. Enquanto o curioso pergunta para matar o tempo, o pensador pergunta para matar a ignorância. Ele não se contenta com respostas simples, não se satisfaz com slogans ou modismos. Ele quer compreender as causas, os princípios, as essências.

Nesse sentido, a dúvida não é o fim da certeza, mas o início da busca. É o que Descartes observa ao declarar: “Penso, logo existo.” Antes de qualquer saber, há o pensamento que duvida. A dúvida, então, é fértil: prepare o solo da alma para acolher a verdade.

Na maioria das vezes, esse despertar filosófico leva o pensador a buscar mestres — antigos ou contemporâneos. São os livros de Platão, Aristóteles, Agostinho, Tomás de Aquino, Pascal, Kierkegaard ou Simone Weil que começaram a falar com uma estranha familiaridade. Não são palavras distantes, mas ecos de inquietações semelhantes.

O filósofo descobre que não está sozinho. Outros já percorreram esse caminho e deixaram pegadas. Ele aprende, então, a pensar com os mestres — não como um papagaio de teorias, mas como quem caminha com um amigo mais velho, que aponta, provoca e eleva.

Entre esses mestres contemporâneos, destaca-se a figura do professor Olavo de Carvalho . Para muitos brasileiros, ele foi o responsável por acender a primeira faísca da filosofia em meio à confusão do mundo moderno. Seu estilo direto, suas aulas marcantes e a ênfase na busca sincera pela verdade despertaram milhares de jovens do torpor intelectual. Olavo não ensinou apenas conteúdos, mas ensinou a pensar , a duvidar dos discursos prontos e a cavar fundo até alcançar os fundamentos mais esquecidos da realidade.

Um de seus conselhos mais célebres resume com claro esse espírito filosófico:

"Não queira ser original. Queira apenas ser verdadeiro. A verdade, sim, é sempre original."

Com isso, ele lembrou que o verdadeiro pensador não é movido por vaidade ou moda, mas por fidelidade ao real. O pensamento é um ato de responsabilidade diante da vida, e não uma performance intelectual.

Estudar com Olavo era, para muitos, o primeiro passo em direção ao essencial — à metafísica, à consciência moral, o autoconhecimento. Ele mostrou que o filósofo não é uma privilégio de catedráticos, mas uma vocação de todo ser humano que deseja compreender sinceramente o mundo e a si mesmo.

Para muitos, a filosofia é uma disciplina acadêmica, fria e abstrata. Para o verdadeiro pensador, no entanto, filosofar é viver. Cada gesto, escolha e silêncio passam a ser atravessados ​​por uma consciência mais desperta, mais exigente. O pensador não foge do mundo — mergulhando nele com olhos mais atentos.

Filosofar, portanto, é um ato existencial. Não é um hobby intelectual, mas uma forma de ser no mundo. É por isso que Sócrates pôde dizer que “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”. A filosofia transforma a vida em busca — e a busca, em plenitude.

Por fim, o despertar filosófico não é um evento isolado, mas o início de um caminho sem fim. O pensador está sempre despertando, sempre se surpreendendo, sempre começando de novo. Em cada novo autor, nova pergunta ou nova dor, ele reencontra o ponto de partida.

A filosofia não é sobre chegar a todas as respostas, mas sobre permanecer fiel à busca da verdade. Ela é, como dizia Gabriel Marcel, uma fidelidade ao mistério — não no sentido de resignação, mas de reverência. 

O despertar filosófico não é privilégio de alguns iluminados. É uma possibilidade inscrita no coração humano. Começa com uma pergunta sincera, se fortalece com a escuta dos mestres e se realiza numa vida vivida com consciência. Ser pensador, no fundo, é aprender a habitar o mundo com profundidade, humildade e coragem.

Se você já sentiu esse chamado — se já duvidou com sinceridade, buscou com paixão ou pensou com coragem — então a jornada já começou. Bem-vindo ao caminho dos que ousam pensar.


E como dizia o professor Olavo de Carvalho, mestre que guiou tantos no início de sua jornada e que foi e continua sendo também meu mestre :

“A filosofia é a arte de não se enganar sobre o óbvio.”

Que essa arte continue viva em nós, em cada dúvida sincera e em cada verdade conquistada com esforço e graça.

 

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