Desde os primeiros séculos da Igreja, a fé cristã nunca foi um amontoado de ideias soltas ou fruto de especulações humanas, mas a viva transmissão de uma Verdade recebida, vivida e ensinada pelos Apóstolos e pelos Santos Padres. Conhecer e estudar os Santos Padres é, portanto, uma exigência de fidelidade à própria fé apostólica. Eles não são apenas figuras do passado, mas verdadeiros pilares que sustentam a ortodoxia, testemunhas vivas da Tradição e espelhos de santidade encarnada. Ignorar os Padres é como cortar a árvore pela raiz, esperando que ela floresça; é perder a memória da própria identidade espiritual e cair no perigo de deformar a fé recebida.
Na tradição oriental, os Santos Padres são vistos não apenas como doutores, mas como homens transfigurados pela luz de Cristo, que ensinaram a Igreja não apenas com palavras, mas com a vida. São Efrém da Síria, por exemplo, nos ensina que “a fé é mais elevada que os céus e mais profunda que os abismos”, revelando o mistério de Deus com uma poesia luminosa que tocava o coração dos fiéis. São Gregório de Narek, mestre armênio, orava dizendo: “Na minha dor, encontrei-te mais próximo que minha própria alma.” São Basílio, São Gregório de Nazianzo, São João Crisóstomo, São Isaac, o Sírio, todos eles falaram com clareza e beleza sobre os dogmas, os sacramentos, a vida ascética, a divinização do homem, e o mistério da Igreja como Corpo vivo do Senhor.
O afastamento moderno da leitura e veneração dos Padres é um dos grandes males que atingem as comunidades cristãs, especialmente quando se buscam respostas novas desconectadas da experiência da fé vivida. Muitos cristãos hoje já não sabem de onde vieram, não reconhecem a profundidade dos escritos antigos, e, como consequência, abraçam ideias confusas, espiritualidades genéricas e até heresias travestidas de progresso. Uma fé sem raízes é uma fé que se torna facilmente presa do mundo. Como ensinava São João Damasceno, “guardemos os ensinamentos dos Padres como pérolas preciosas”, pois neles brilha a mesma luz que iluminou os Apóstolos.
A tradição siríaca tem especial veneração por essa continuidade viva. Os hinos, as liturgias e as preces da Igreja respiram o espírito dos Padres, e a doutrina que neles encontramos não é fria, mas calorosa, carregada de imagens, de contemplação, de amor pela Encarnação. São Isaac, o Sírio, dizia que “aquele que conhece verdadeiramente a si mesmo é maior que aquele que ressuscita os mortos”. Não há ruptura entre a mística, a doutrina e a prática nos Padres do Oriente; tudo converge para o conhecimento de Deus através do arrependimento, da humildade, da oração e da caridade.
Esquecer os Padres é um sinal de ingratidão e de fraqueza espiritual. Honrar os pais na fé é mandamento de Deus, assim como honramos nossos pais segundo a carne. A Igreja é Mãe, mas também tem pais espirituais. Esses pais foram os primeiros a viver a fé em meio às perseguições, a definir os dogmas contra as heresias, a organizar a vida eclesial e a dar testemunho com o próprio sangue. Se eles foram fiéis até o fim, como nós poderíamos ser negligentes em conhecê-los? Como poderíamos pretender ensinar, viver ou até reformar o que não compreendemos em sua origem?
O perigo do esquecimento é o surgimento de erros doutrinários. Toda vez que a Igreja se afastou do espírito dos Padres, ela entrou em confusão. Muitas divisões, abusos litúrgicos, moralismos e desvios teológicos surgiram exatamente onde se perdeu o contato com os santos do deserto, com os mártires, com os teólogos da oração. A Igreja Oriental sempre soube preservar esse tesouro com reverência: através da iconografia, dos ofícios, da memória litúrgica, da catequese e da espiritualidade doméstica. Ainda hoje, muitos de nossos nomes de batismo vêm desses homens e mulheres de fé, e suas festas continuam sendo celebradas como parte da vida viva da Igreja.
Voltar aos Padres não é nostalgia, é necessidade. Eles nos mostram Cristo com profundidade e beleza. Eles nos ajudam a rezar, a pensar, a compreender o Evangelho com os olhos da Igreja indivisa. Eles são alimento sólido para um tempo de confusão. Por isso, é urgente uma restauração do espírito patrístico em nossas comunidades, nos seminários, nos mosteiros, nas famílias e nas pregações. Que cada fiel oriental reencontre nos Padres o espelho de sua vocação, a memória de sua fé e a força de sua identidade.
Somente assim poderemos resistir às tempestades doutrinais do nosso tempo, permanecer fiéis ao Espírito Santo que fala através da Tradição, e reconhecer na voz dos Padres a voz da própria Igreja, a Esposa de Cristo, que é una, santa, católica e apostólica.
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