sábado, 15 de novembro de 2025

Entre Oriente e Ocidente: quando a fé perde o medo e recupera a maturidade

 


Entre Oriente e Ocidente: quando a fé perde o medo e recupera a maturidade

Há um ponto delicado, quase sempre sussurrado, no diálogo entre a Igreja do Oriente — seja na veste venerável da Ortodoxia, seja nas Igrejas Católicas Orientais — e a Igreja do Ocidente — geralmente identificado com o Catolicismo Latino ou com as muitas seitas protestantes que surgiram a partir dele. O ponto é este: a confusão sobre o que é unidade, e o medo, quase infantil, de perdê-la.

Muitas vezes, no processo de conversão de um católico romano para o Oriente, alguém levanta a sobrancelha: “Mas… e a unidade com o Papa?”. Como se a unidade fosse uma coleira, e não um unidade silencioso entre Cristo e a Igreja.

Lembro-me de um padre latino que disse, com uma franqueza até engraçada:
"O Papa te conhece? Ele sabe quem é você? Não? Então por que esse medo todo?"
Havia, ali, uma verdade dura e simples — a mesma verdade que os antigos monges do deserto falavam sem floreio: confundimos unidade com apego emocional à figura de um homem.

O Ocidente, moldado por séculos de racionalismo e estruturas, acabou fazendo do Papa quase um símbolo mágico: perfeito, inoxidável, infalível por natureza. Como se a infalibilidade fosse um estado permanente e não uma proteção extraordinária em situações específicas.

E aí aparece o paradoxo moderno:
Mesmo quando o Papa erra — e erra como qualquer homem marcado pela queda — muitos fingem não ver. Prefiro cegar a alma para defender uma idealização. É um antigo drama humano: quando o ídolo racha, o devoto cria uma desculpa nova.

O problema não é no Papa — o problema é o sentimentalismo com que se olha para ele.

No campo espiritual, a diferença entre Oriente e Ocidente é ainda mais gritante.
Enquanto, no Ocidente, a espiritualidade muitas vezes deslizou para o território do “eu senti”, “eu chorei”, “meu coração esquentou”, no Oriente a fé é mais viril, mais antiga, mais despojada.

A oração oriental é como uma pedra fria pegando sol: simples, firme, sem floreios.
Não exige arrepios, nem luzes coloridas, nem tremores extáticos.
Exige fidelidade.

Os Padres da Igreja — tanto latinos quanto orientais — nunca definiram fé como sensação.
A fé era conformidade. Era um ato da vontade iluminada pela graça.
Os apóstolos não viviam testando se o Espírito Santo ainda estava no peito porque o corpo esquentou ou não. Se fosse necessário fazer isso, Pedro teria derretido antes de chegar a Roma.

Mas o homem moderno, sentimental até o osso, acha que quando o sentimento acaba, a fé vai embora junto. É como se quisesse transformar Deus num romance adolescente.

E aqui chegamos ao ponto central: falta de maturidade espiritual .
E maturidade espiritual não é dureza, nem frieza — é verdade.
A verdade é que a fé não depende das emoções.
A verdade é que a unidade não depende de idolatria de um patriarca ou de um Papa.
A verdade é que ser católico — seja no Oriente ou no Ocidente — nunca foi sentir coisas, mas fazer o que deve ser feito diante de Deus .

Quando entendemos isso, o Oriente e o Ocidente deixam de ser adversários.
São como dois braços de um mesmo corpo, um mais sensível, outro mais musculoso.
São tradições que se completam, quando vívidas com sobriedade e não com ilusões românticas.

No fim, a conversão verdadeira não é de rito, nem de patriarcado, nem de geografia.
A conversão verdadeira é de uma fé infantil para uma fé adulta , que não se apoia em sensações, nem em pessoas, mas na rocha que não muda: Cristo, a Palavra eterna que fez da Igreja o caminho seguro para a salvação — no Oriente, no Ocidente e nos desertos onde só o silêncio reza.

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